sexta-feira, maio 30, 2003

É com prazer que apresentamos no Ideias e Pensamento dois poemas de João firmino Alves. este jovem poeta, nascido a 27 de Maio de 1981, nasceu cá no porto e é nosso amigo desde à 6 anos. Actualmente frequenta, na FLUP, o curso de LLM - Francês-português.

Depois de muita insistência, consegui que ele publicasse o seu poema premiado pela Escola Secundária em que andava, num concurso de poesia.

Espero que gostem:


Eu sou aquele que demais pensa,
Que demasiado sonha
sendo inútil para o mundo.
Sou aquele que viu as estrelas,
num claro dia de sol,
e que viu a luz do mesmo Sol,
numa noite sem luar.

Sou aquele que os outros
Diferente consideram.
Porém, pintei um retrato no infinito,
e compus música no silêncio.

Tentei isto mostrar ao mundo, falando-lhe.
Ele amordaçou-me…
Virei-me então para o mar,
E de novo contemplei ilhas imaginárias e o infinito.

Tudo porque quis ser diferente num mundo igual
e tarde descobri que assim ser era uma ameaça.
Ainda esperançado, pus uma máscara para passar despercebido
mas ela era tão perfeita que o rosto me moldou
ficando assim igual àquilo que não queria
que não passava de algo fingido que realidade se tornava.

Virei-me novamente para a Terra,
com a máscara na face colada.
Assim, fui falar com os outros
mas eles não falavam naquilo que eu queria.
Quase em lágrimas (que a máscara não mostrava) maldisse-me
De a esta geração pertencer
À qual não sei se nela marginal sou,
pois antes dela devia ter nascido, ou se sou,
o Primeiro de uma outra que está por chegar.

Conversem, conversem entre vós sobre assuntos mundanos.
Maior felicidade não há do que eles.
Continuem, continuem a conversar…
Eu terei durante a vida que aguentar
minha gigantesca solidão exterior
ao mesmo tempo que sinto a solidão interior a flamejar de algo
Sábio e límpido que amaria vos mostrar.

Homens, eu morrerei, vós morrereis também.
Vossas vozes calar-se-ão, a minha talvez fique
noutro que num espaço e tempo diferentes
também uma máscara terá,
para na fronteira intimista da realidade estar.

Homens, só por vós suspiro,
pois vos amei, sem vós me retribuirdes o sentimento.
Tudo por não saber eu quem ser.
Não descobri ainda se nasci demasiado tarde ou cedo
se meus sentimentos e ideias antiquados estão,
ou novidade são.

(A uma montanha subi para melhor ver o Sol
Mas quando ao cume cheguei já era noite
e com ela não podia em comunhão ficar.
Desci frustrado e com a sensação de jamais ter sonhos.)

Como gostaria eu de um claro dia de felicidade ter,
algo que um sorriso na face fizesse brotar.
Frustrado e sem sonhos fui dormir para casa,
esquecer o mundo mas idealizá-lo em fantasias.
E quando acordei, a máscara desaparecera.
Saí de casa a correr, para ao mundo escapar,
mesmo embrenhando-me nele.
Ninguém me reconheceria, e não me queria dar
ao trabalho de explicar quem era e porque diferente estava.

(E tu, simples, que conseguiste,
luz no meu pensamento perscrutar.
Tão rápido esse momento passou…
E vieste um abraço dar-me,
mas a seguir, viraste-me a cara.
Não reconhecias o verdadeiro eu
e pensaste que esse era máscara do falso.)

Tudo continuará complexo para esta humanidade
Cega e cruel, onde sempre nascerão,
filhos de pior estrela, mas que tentam,
e quase sempre conseguem,
mover montanhas e oceanos secar.
Portadores da palavra de um Mundo ideal
Senhores de uma grandeza interior.
para sempre grande e interior.



João Firmino Alves - 2000