sexta-feira, junho 13, 2003

Pessoa tinha consciência do seu génio. Isso está presente naquele fragmento do Livro do Desassossego em que ele afirma que, «depois de pensar às vezes, com um deleite triste »(é nosso o itálico), que não é compreendido pela sua geração. Porém, a sua família chegará ainda, aquele que o ama e o ´porá no lugar de farol que nos ilumina o caminho da nossa vida. Pessoa tinha de tal modo consciência da sua grandezea que a sua vida foi a escrita. Escrita para vencer o tempo, para ganhar uma família póstuma que o amaria verdadeiramente. Essa família já chegou. Somos nós, aqueles que o lemos e veneramos.



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Que serei eu daqui a dez anos – de aqui a cinco anos, mesmo? Os meus amigos dizem-me que eu serei um dos maiores poetas contemporâneos – dizem-no vendo o que eu tenho já feito, não o que poderei fazer (se não eu não citava o que eles dizem...). Mas sei eu ao certo o que isso, mesmo que se realize, significa? Sei eu a que isso sabe? Talvez a glória saiba a morte e a inutilidade, e o triunfo cheire a podridão.
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Fernando Pessoa – excerto de uma carta à sua mãe