Apresentamos, em primeira mão, um texto de Carlos Eduardo Oliveira que faz parte do seu livro sobre a cidade do Porto. É sobre a bonita igreja de Cedofeita, monumento românico que todos deviam visitar, pelo menos os que moram no Porto.
A pequena igreja de Cedofeita é a mais antiga da cidade do Porto. Sabe-se que é anterior à Sé, e se antes em seu lugar alguma igreja existira, nenhum documento o prova.
Cedofeita, segundo alguns historiadores, teria sido feita em pouco tempo, graças à rapidez das obras. Daí o seu nome. Mas para outros investigadores, Cedofeita significa feita recentemente.
Ao início, Cedofeita funcionou como uma simples ermida, talvez um local de descanso e dormida dos peregrinos que a Santiago de Compostela se dirigiam. Funcionava também como a igreja de uma pequena comunidade agrícola, nos arrabaldes do Porto.
A planta de Cedofeita é muito simples, quase pobre, estando de acordo com os fracos recursos monetários da época da sua construção. Esta planta, adoptada em tempos tão longínquos, continuou a servir de modelo para tanta outras igrejas que povoam Portugal: dois rectângulos justapõem-se, sendo o maior o corpo da igreja e o mais pequeno a capela-mor. Apesar da sua miséria estilística, Cedofeita é de uma notável elegância e um exemplar perfeito da arquitectura românica.
Portal da parede sul
No interior, a igreja está completamente abobadada, com a cobertura em pleno centro e contrafortes exteriores a anularem a pressão lateral sobre as paredes. Nos ângulos, sólidos gigantes reforçam a firmeza da construção, integrando-se na estrutura, constituídos por contrafortes muito bem concebidos, como se passassem despercebidos. São três na nave principal e um na capela-mor. Esta última é, como já referimos, rectangular e o seu arquitecto parece ter querido evitar o problema da junção de uma abóbada, usual nos edifícios românicos. Mesmo assim, conseguiu levantar este bonito edifício, dotado de um invulgar equilíbrio entre o peso da abóbada e a espessura das paredes.
Nas paredes laterais as cornijas repousam sobre pedras salientes, umas lisas e outras lavradas. Dois portais ogivados rasgam as paredes. Um no lado sul com quatro colunas de capitéis com aves e motivos flóreos (lavrados) e fornecido com ábacos. O portal da parede norte possuí duas arquivoltas e um tímpano, decorado com uma rosa ou rosácea. No centro desse círculo sobressai o cordeiro pascal. As quatros colunas que formalizam este portal, duas de cada lado, têm capiteis com formas decorativas lavradas, sem ábacos. O tímpano é sustido por dois modilhões lisos.
Inscrição no portal da fachada
Na fachada, deixa entrar luz para a nave uma janela de arco pleno. O portal da frente deste edifício, o maior dos três que existem, comporta três arquivoltas e capitéis esculpidos com quadrúpedes e aves (decoração zoomórfica). O tímpano comporta uma inscrição que os especialistas acham bastante duvidosa.
A luz penetra no interior da igreja por uma pequena rosácea quadrilobada, pela já referida janela da fachada e por quatro frestas, duas de cada lado.
Assim é a tão antiga igreja de Cedofeita. Igreja modesta, mas quase na unanimidade dos estudiosos, bela. Pode-se considerar este atributo devido à sua simplicidade, de não ter a mínima mistura de estilos. Esta pequena igreja é um grande orgulho para a cidade do Porto. Mas pouco faltou para que nós, nos nossos dias, não a tivéssemos, pois em 1753, o Prior de Cedofeita pensou mandá-la destruir para em seu lugar reedificar outra igreja mais grandiosa. Por falta de dinheiro, este terrível acontecimento não foi avante.
Carlos Eduardo Oliveira - 1999
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