sexta-feira, junho 06, 2003

Apresento, hoje, um texto que incluirei numa História europeia do FC Porto. Apresentarei, a partir de hoje, excertos de textos sobre jogos europeus da minha equipa. Espero que gostem...


Meia-final da Taça dos Clubes Campeões Europeus 1987 - 1º jogo

08/04/1987
FC Porto - Dínamo Kiev (2-1)
Ficha do jogo: Estádio: das Antas
Árbitro: Jan Keizer (holandês)

Constituição das equipas:
-FC Porto: Mlynarczyk; João Pinto; Lima Pereira; Celso; Eduardo Luís; Jaime Magalhães; André; Sousa; Vermelhinho; Gomes; Paulo Futre.
substituições: Sousa por Juary (45m.); Jaime Magalhães por Madjer (83m.).

-Dínamo Kiev: Tchanov; Baltacha; Bal; Kuznetsov; Demianenko; Yakovenko; Zavarov; Mikhalitchenko; Rats; Belanov; Blokhine.
substituições: Blokhine por Morozov (78m.); Belanov por Yevseyev (88m.).

- Golos: 1-0: Futre (49m.)
2-0: André (56m.) - GP
2-1: Yakovenko (78m.)

O FC Porto jogava pela primeira vez na sua história uma meia-final da Taça dos Campeões. Não era por acaso que chegara tão longe: tinha uma equipa onde jogadores experientes - como Gomes, Madjer, Celso entre outros - sabiam resolver muitas situações típicas dos noventa minutos de jogo. Tinha também um jovem talento que despontava nesta época para o estrelato internacional: Paulo Futre. No entanto, ia defrontar a mais poderosa equipa da União Soviética, que contribuía com uma média de dez jogadores para a selecção nacional do maior país do mundo. Era também um clube com pergaminhos no futebol europeu e mundial, sendo na altura o detentor da já extinta Taça das Taças. Era uma equipa em que se apostava para ser campeã da Europa. Assim, à distância de alguns anos, podemos compreender que esta meia-final era a Final antecipada.
O FC Porto entrou em campo sem medo, controlando o adversário. A defesa estava segura, e a táctica era a melhor para bater o "gigante soviético": não sofrer golos e atacar em força no contra-ataque com Futre e Gomes. Porém, a fama do jovem português chegara à URSS. Baltacha marcava-o implacavelmente. O Dínamo não dava espaços para os centrocampistas azuis-e-brancos apoiarem os atacantes, devido às mudanças de ritmo constantes. Era um "jogo de nervos", pois um desaire de uma formação podia ser a felicidade de outra. Isso quase aconteceu quando aos 20m. Blokhine marca golo. As bancadas das Antas, cheias de adeptos gelaram. Mas o árbitro prontamente assinala o fora-de-jogo. Era um aviso. Outros lances de perigo houveram na primeira parte, tanto de um lado como do outro. Mas o melhor estava para acontecer, depois do intervalo.
Artur Jorge, ao intervalo, retira Sousa e mete Juary afim de dar melhor consistência ofensiva à sua equipa. Recomeça o jogo para os últimos quarenta e cinco minutos, que ficariam na memória colectiva. Aos 4m. da segunda parte, Futre pega na bola, arranca pela direita fintando dois jogadores soviéticos, entra na área e chuta no momento em que o defesa Kutzenov mete o pé à frente da bola. Esta ressalta em Futre, parte em direcção à baliza, e faz um lindo chapéu ao guarda-redes. O jovem português delira, sai de campo e atira-se às redes de protecção que separavam as bancadas do campo. Demora algum tempo a festejar. Isso vale-lhe um amarelo, mas compreende-se a euforia. Quatro minutos depois do golo há outro acontecimento decisivo no desenrolar da partida: a redução da equipa do Dínamo a dez unidades. Bal, por acumulação, é mandado para os balneários por rasteirar Juary que perigosamente fugia em direcção à baliza. O Dínamo perdia assim o seu fôlego ofensivo. A equipa da URSS passa a defender.
Aos 56m. há penalty a favor da equipa portuguesa. De novo Kutzenov "ajuda" os portistas, ao meter a mão à bola num canto. André é chamado a converter. Marca a grande penalidade e a festa toma conta das bancadas. Acreditava-se que com este resultado o FC Porto estava muito próximo da final da Taça dos Campeões. O sonho estava a tornar-se realidade. Mas na continuação do jogo, o Porto falha bastantes oportunidades de dar uma certeza aos seus adeptos. Até que, devido a estar muito balanceado no ataque, a turma portista vê o sonho tornar-se desespero a doze minutos do fim: o Dinamo marca. Um erro de Celso, que não se faz à bola depois de um cruzamento pela esquerda. Não se antecipa, e Yakovenko acaba por marcar o tento solitário do Dínamo. Nesse momento, o Estádio das Antas gela. Todos viam o sonho portista desvanecer-se.
Acaba o jogo, e na cabina do vencedor do desafio havia desilusão. Artur Jorge mostrava-se abatido e achava o «resultado inglório». O capitão Fernando Gomes afirmava que «o resultado era dos mais injustos que obtera na sua carreira». O presidente Pinto da Costa, no entanto, continuava «esperançado em estar na final». Se, como já mostramos, o balneário azul-e-branco estava desiludido, o do Dínamo estava contente. Para Valeri Lobanovski, o resultado era óptimo pois iriam dentro de quinze dias jogar frente ao FC Porto em casa.
De facto, quinze dias ia separar a primeira mão da segunda. Iriam ser dias de esperança, de angústia. Conseguiria o glorioso passar a eliminatória?