terça-feira, julho 29, 2003

Que país este que vamos herdar...

Ontem, por volta da meia-noite, saí de casa para ir passear a minha cadela Ariana. A zona onde vivo, no Porto, é bastante calma e à noite mais parece estarmos numa aldeia do que no centro da cidade. Porém, ao virar a esquina da viela nas traseiras de casa, tive um choque. Deitado sobre as pedras da calçada, apenas com um cartão a proteger a cabeça, estava a dormir num sono de cansaço um mendigo.
Saí rápido porque a Ariana começou a ladrar (como cadela de raça pura e mimada não gosta destas coisas). Mas quando regressei - com a Ariana mais calma - reparei melhor no homem. Pele ainda jovem (trinta anos no máximo) e cabelo de uma cor loira como nenhum português pode ter. «Só pode ser ucraniano», pensei. E naquele momento, uma revolta imensa dentro de mim senti. Os ucranianos vêm para o nosso país em busca de melhores condições de vida. A maioria tem cursos superiores, e uma educação cívica exemplar, que nós nunca teremos. e vem aqui para as obras. São explorados por patrões broncos. E a paga que lhes damos é dormirem na rua.
Será que já nos esquecemos que também fomos um povo de emigrantes. E que muitos portugueses dormiram na rua? E se em vez de pensarmos em betão e grandes obras, pensassemos em ajudar estas gentes que vem de outros países, que passam fome enquanto nós deitamos bifes fora? Muito tem que mmudar em Portugal para ainda sermos grandes.
Que país este que vamos herdar. Um país com políticos idiotas e que abre telejornais com pequinhices.
Por fim, deixei junto do ucraniano algo que comer e um bom bocado de leite. Não deixei dinheiro pois receava que passasse um portuga e o roubasse para a droga ou outra coisa qualquer. e esta noite, vou ver se ele volta. enquanto a minha ética kantiana, enquanto os meus valores me disserem para ser altruísta, continuarei a sentir-me bem comigo mesmo. E a sentir-me mal pela porcaria de país em que vivo.

Duarte SD