segunda-feira, abril 18, 2005

Conclave - dia 1

Fumo negro saíu da primeira votação realizada neste primeiro conclave do século XXI. O sucessor de João Paulo II não está encontrado e teremos de viver - pelo menos - mais uma noite de Sé Vacante. Tudo isto é uma novidade para mim, e desperta-me imensa curiosidade. Uma certa ansiedade até. Quero estar em frente à televisão quando finalmente o Novo Papa for eleito. Esse novo Papa, no entanto, terá grandes provas a dar ao Mundo, pois é um fardo demasiado pesado a herança do anterior Papa. Como este Papa ainda está presente na memória das pessoas. Devido ao seu longo pontificado ele foi para muitos, principalmente os da minha geração, O Papa. Um Homem a quem nos acostumamos respeitar e admirar. Era um muito grande Homem, e teve a coragem de promover o diálogo ecuménico entre as várias religiões. Teve a coragem de chamar os jovens a uma Igreja Católica que estava a envelhcer. Soube pedir perdão pelos erros históricos do Santo Ofício, e andou pelo Mundo a pregar a mensagem de paz do evangelho. Pois pela fé e pela espiritualidade é possível chegar à paz. E cada Homem de fé deve odiar a Guerra e as intrigas.
Assim, quem sair deste conclave destinado à cadeira de Pedro sofrerá imensas comparações com o Papa Wojtyla. Muitos nomes têm sido dados como papabili. Ora, a história da Santa Sé mostra que poucos foram aqueles em quem a Imprensa acertou no último século. A excepção foi Pio XII (quase houve sucessão neste caso) e, em parte, Paulo VI (João XXIII terá afirmado no leito de morte que o Cardeal Montini - futuro Paulo VI - deveria ser o continuador da sua obra). Desse modo, começo a olhar com desconfiança para os muito falados prováveis sumo pontífice, entre eles o Cardeal Patriarca de Lisboa D. Policarpo. Mas a vontade de Deus será feita no escrutínio das cento e quinze almas que a partir de hoje se reunem na fantástica capela sistina, pintada por Miguel Ângelo.
Embora sentisse natural orgulho se um dos dois cardeais lusitanos fosse o escolhido, também não me sentirei triste se o não forem. Um Papa, a partir do momento da sua eleição, torna-se uma figura universal. A sua nacionalidade é o Planeta Terra e não um país. João Paulo II foi assim, ao fazer com que todos os cristãos (ou não) o vissem como uma espécie de pai ou avô que os guiava nos caminhos da fé. Desse modo, espero um Papa que se faça admirar pelos seus actos, independentemente de onde nasceu.
Um Cardeal, que tem sido pouco falado, e por isso poderá ser uma surpresa, é o «jovem» (53 anos) Arcebispo de Lyon. Numa recente revista especial do Expresso, dedicada a João Paulo II, no artigo Os princípes da Igreja em que é entrevistado, Philippe Barbarin defende ideias muito interessantes e inovadoras. Faz uma crítica a esta era de globalização selvagem em que o Homem, por vezes, já não pode conversar em paz com um amigo devido ao absurdo da proliferação de televisões ou dos telemóveis a tocar. Preocupa-se com os jovens e com os seus modos de vida presentes, e tem um curioso comentário sobre a eutanásia, embora seja contra esta como é natural a um purpurado. Uma frase fica desta entrevista: «A inacreditável desigualdade na repartição das riquezas já não é só um desafio - é um perigo». Mais palavras para quê? É um Homem cujo percurso se deve seguir com atenção. Quem sabe se um (destes) dias chega a Papa.