terça-feira, novembro 11, 2003

A Minha Pátria

«Tudo me prende à terra onde me dei». É um simples verso de Eugénio de Andrade que muito recordo quando passo nas escuras ruas do Porto. A cidade que eu vejo como negra. A cidade que amo não só por nela ter nascido mas por tanto me identificar com o escuro dos seus prédios graníticos e velhos. Cada rua do Porto, se soubermos olhar, se amarmos olhar a cidade, é um acontecimento. Pormenores quase insignificantes, por vezes mínimos, invadem-me o olhar. E encantam-me como quem pela primeira vez vê algo de inesperadamente belo.
Mas não é só por isto que o Porto é a minha pátria. Pátria no sentido de local ao qual a alma ofereço. Pátria porque em Portugal só a minha cidade é intimamente independente, espiritualmente independente, dos níveis de corrupção de costumes, valores e falta de fraternidade a que o Portugal «português» chegou. Não sou radical em dizer que não vejo Lisboa como capital. Não vou afirmar que gostava de ver o Porto e o norte do país independente de Lisboa. Longe disso. Porém, afirmo que não escolhi Lisboa como capital, e a ela não ofereço dedicação. Porque todo o amor que deve ser dado a um local é aqui o Porto que o tem.
O Porto é a minha pátria porque foi aqui que nasci, amei, vivo e estudo. E, para além de tudo, é uma cidade com alma. Uma coisa rara num centro urbano. A cidade sente como uma alma única. Tem orgulho próprio, erigido na vontade dos seus cidadãos. Os tripeiros, povo único que sabe ser amigo do seu amigo, que é generoso. Nunca hipócrita. Não se vende a interesses ditos mais altos. E defende o que é dele. Eu sinto esta alma onde quer que esteja. Quando me ausento da minha pátria, por longos dias, costumo mais cedo ou mais tarde sentir-me diferente. A alma anseia voltar à cidade. E comovo-me sempre quando venho de sul, atravesso a ponte, e vejo o puro espectáculo erigido no granito que é a minha cidade. Coisa única no mundo. Graça divina que orgulha qualquer portuense.
O weblog Crónicas de um desterrado é de um cidadão do Porto. Reparem o que ele sente por estar fora da sua cidade. É um desterro. Até respirar parece diferente. A ele presto a minha homenagem e agradecimento público pelo simpático email que me mandou. Parabéns pelo seu blog e força no seu desterro. A cidade espera por si.

Mais posts sobre a minha pátria em breve…

Duarte SD