domingo, outubro 26, 2003

Estamos em crise e estão todos deliciados - Solaris Planet

No actual panorama nacional e mundial em que nos encontrámos, existe uma grave crise. Crise de valores, de ideias, de oposição aos direitos e deveres estabelecidos. Por nada se luta. O ser humano deixa-se arrastar numa torrente em que julga ter tudo, que tudo pode controlar, mas que leva a parte nenhuma. A uma alienação da alienação.

Vivemos num tempo de crise profunda e ninguém se apercebe. Por todo o lado, emprego, ruas, meios de comunicação, tudo está bem. Mesmo que esteja mal (processos «Casa Pia», maus-tratos a menores, quedas de pontes, etc.) tudo apela a um consumismo reinante. A uma serenidade egoísta. A um capitalismo cínico que não se interessa pela vida de ninguém.
De facto, estamos num tempo em que os valores não são aprendidos nem apreendidos, mas ditados. Ditados pelos media, pelas relações pessoais, etc. Num tempo em que ter um par de calças de marca ou o carro desta ou daquela marca é melhor que ter uma ideia, um valor. De tudo isto, as relações humanas entraram em declínio. Raros são agora os sentimentos de entreajuda. De amar o próximo. Como afirmou Saramago quando recebeu o Prémio Nobel, «chega-se mais rapidamente a Marte que ao nosso semelhante». Infelizmente é verdade. O Homem olha para o Mundo e para os seus pares em função de si. Não o contrário. Nós em função do Mundo. Parte integrante de uma globalidade. Assim, valores pessoais, muitos deles transmitidos pela Igreja, estão mortos. Ninguém sabe o que quer. Vive-se para o nada. Para esquecer a nossa condição. De mortais que carregam o peso imenso da Humanidade e que dele não se conseguem livrar.
O futuro é cinzento. Caminha-se no meio de festas e competições para a degradação. As artes estão esquecidas. Ninguém lê. E mesmo que leia, muitos não sabem ler. Nem olhar para um quadro (olhar e estar atento é tão importante). Continuamos cada vez mais «escravos cardíacos das estrelas», caminhando numa estrada que cheira a putrefacção. Traímos revoluções. Cuspimos na glória de nossos pais e avós.
E assim vamos – quase todos – felizes sem nos apercebermos que existe um Planeta Solaris aquém e além de nós ao mesmo tempo. E que no Mundo somos uma parte infinitesimal. Não o contrário…

Duarte SD