sábado, outubro 04, 2003

A Educação – problema nacional

É já longo o historial dos erros e «invenções» dos ministérios da educação, quer dos governos de Cavaco Silva, de Guterres (o tal da paixão…) e do agora primeiro-ministro Durão Barroso. Todos estes governos se caracterizaram por fazerem da educação uma palavra de ordem… e por a traírem quando viram a colmeia em que iam mexer.

É só asneiras. As propinas aumentam nas Universidades. No Secundário há trinta mil professores no desemprego. No básico as famílias gastam rios de dinheiro num ensino que se diz obrigatório e gratuito. No primário as escolas do interior estão vazias. Esta é apenas uma pequena amostra do estado da Inducação em Portugal. De facto, os constantes governos pós-25 de Abril nunca tiveram tempo – nem vontade, o que é mais importante – para pegarem nesta pasta a que o vulgo chama «batata quente». No entanto, logo após o 25 de Abril a Democracia cometeu um erro calamitoso. Acabar com o ensino técnico. Sem este tipo de Ensino, que muita gente formara em grandes Escolas como a Industrial Infante D. Henrique, como a Comercial Oliveira Martins, etc., os alunos só podiam seguir uma via: serem doutores. E assim se formou, em trinta anos de vida democrática, uma nação de doutores com os mais elevados índices de analfabetismo da Europa.
Mas porque razão não há nenhum governo, quer à esquerda quer à direita, que pegue na Educação e faça aquilo que é preciso fazer: reconstruí-la? A resposta é simples e clara: qualquer ministério da educação que a fizesse, arriscava deitar tudo a perder junto do eleitorado. É que da maneira como está a educação, só num longo período de tempo e com uma revolução é que tudo iria ao sítio. Revolução no sentido de mudança. De parar e pensar. Porque o ensino é como um comboio que vai por uma linha velha. Cada vez mais rápido e com a linha cada vez mais enferrujada, acabará por descarrilar. Se ainda não descarrilou…
Pelo menos parece que isso aconteceu com o recente escândalo governamental. Pedro Lynce ajudou a entrar no Curso de Medicina – aquele que apresenta as médias de acesso mais elevadas e pelo qual tantos jovens suspiram - a filha de um colega de profissão: Martins da Cruz. Isto prova o laxismo e o laissé faire a que isto chegou. A impunidade com que se julgam os governantes. Se eles são assim, e como Estado deveriam ser o exemplo máximo para o povo, perguntamo-nos em que país estamos. Agora os filhos dos ministros têm estatutos excepcionais. Será que por serem filhos de governantes são tão excepcionais? Não há estudantes tão bons que, por vezes, lutam durante contra tudo e contra todos para assegurarem um futuro no que gostam e são impedidos, por «despachos excepcionais»? O que são os governantes mais que o comum do povo? Gostávamos de obter resposta a esta questão.
Mas se um mal nunca vem só, um escândalo nunca aparece solitário. Embora o caso da demissão de Pedro Lynce vá começar a desaparecer, o aumento das propinas continuará ainda a dar que falar. Estas aumentaram com um único intuito. Para dilatar a riqueza de um governo falido, que comanda um país com um défice brutal e que se vai deitar a perder no dia em que mais dez países entrarem para a União Europeia. Tudo serve para arranjar dinheiro. E quem paga os excessos dos governos é o povo. É sempre o povo que paga quando o governo não tem juízo. Mas o que mais nos choca, todos os anos (tantos casos que se conhecem), são aqueles alunos humildes – para não dizer pobres – e esforçados, cujos pais sem muita sorte na vida querem o melhor para eles e não conseguem entrar nas Universidades Públicas. Ou se conseguem têm que trabalhar durante o ano e as férias para pagarem as despesas ao longo do ano. São estes que também são esquecidos na hora do aumento das propinas. São estes que são, talvez, o futuro do país. Muitos não tiveram uma infância feliz. Querem ser alguém. Mas o sistema de alienação a que o mundo capitalista chegou é cínico. Esquece-os e dá oportunidades sempre aos mesmos. Aos filhos dos ministros, aos endinheirados, aos marrões, etc. Que Estado tão pouco humanista e democrata nós temos. O fascismo do dinheiro continua a imperar. Este post é dedicado a todos os estudantes que se inserem nos exemplos anteriores. Sem excepções.

Duarte SD