segunda-feira, dezembro 04, 2006

Camarate, ontem como hoje

A dúvida ainda paira sobre a sociedade portuguesa. Vinte seis anos depois. O fantasma do que se passou naquela noite trágica clama ainda justiça. Dou a minha opinião pessoal - considero que a queda do Cessna onde viajava o primeiro-ministro Sá Carneiro e o Ministro da Defesa Adelino Amaro da Costa, mais acompanhantes e pilotos, caiu por causa de uma bomba. Porém, pelo que leio e oiço, na altura a dúvida era fracturante. Para uns era atentado e para outros era acidente. Mas hoje os que pensaram que era atentado continuam com a sua certeza (casos de Marcelo Rebelo de Sousa, Freitas do Amaral, Inês Serras Lopes, que sobre o caso escreveu um interessante livro, etc.). Os que pensavam que era acidente hoje têm dúvidas. Têm dúvidas porque as provas são cada vez mais evidentes. Desde a confissão do presumível autor da bomba - apesar não lhe podermos dar credibilidade total - até às conclusões das últimas comissões de inquérito. Mas aqui nascem outras questões. Porquê tantas comissões? Porquê tanta confusão? Burocracia ou incertezas, o certo é que o caso se arrastou penosamente, sem que o poder judicial pudesse intervir. Entretanto o caso prescreve. E julgo que deve ser para sempre. Fique na consciência e na condenação pública o facto de ter sido crime. Faça-se por aí justiça. Criar a excepção, como se fosse a coisa mais fácil do mundo, pode ser muito perigoso, como hoje defende o bastonário da ordem dos advogados Rogério Alves. A Justiça cria certas formas de defesa para não se tornar uma imensa burocracia. Entre elas estão as prescrições, para que os casos não se julguem durante anos intermináveis sempre de recurso em recurso, e ninguém poder ser julgado pelo mesmo crime duas vezes. Para Camarate aconteceu a primeira. Uma excepção seria perigosa para a nossa justiça.

Também neste dia trágico suicidou-se, há seis anos, Miguel Ganhão Pereira. Era jornalista da TVI. Estava a investigar Camarate. Coincidência de datas? Talvez apenas encontros...