terça-feira, maio 16, 2006

Dos colunistas da nossa praça

Para além de notícias, um jornal tem comentadores dos acontecimentos diários. Pessoas que são referências, e que diariamente ou semanalmente mostram os seus dotes de analistas da realidade ao público. Hoje, dia 16 deste longo maio perdido, destaco três. Miguel Sousa Tavares em A Bola, Eduardo Prado Coelho no Público, e Manuel António Pina no JN. Por vezes, os comentadores /colunistas da actualidade têm o condão de dizer aquilo que nós pensamos de forma simples. E a de nos fazer não sentir sós com as nossas ideias.
Miguel Sousa Tavares escreveu um artigo sobre as escolhas de Scolari. Subscrevo inteiramente a sua opinião sobre a Selecção de "amigos" que o brasileiro leva ao Mundial da Alemanha. Não me alongo mais, porque não gosto de trazer futebol para este blog. Deixo apenas o link.
Eduardo Prado Coelho, a quem me habituei desde há muito tempo a ler, publica na sua crónica diária «O fio do horizonte» uma lista das suas "perdas" durante a vida. A perda das casas, esses espaços físicos que vagueiam na nossa memória afectiva (como te recordo velha casa do centro do Porto, onde o paraíso da infância tão belo foi). A perda das cidades onde viveu (Castelo Branco cidade de outrora e de hoje, ainda te procuro por vezes na simples roda do poço da estação de caminhos de ferro) e dos familiares e amigos que se foram (o teu sorriso e os teus olhos de menina continuam a seguir-me nos sonhos mais obscuros). Enfim, uma crónica bem conseguida - já escasseava a criatividade a EPC - e que me fez também recordar as minhas perdas. para além da glória das conquistas, o ser humano tem que aguentar as suas constantes perdas. Mas ao menos molde a sua personalidade ao que de bom teve em contactar com o antes de se perder. Infelizmente não posso deixar link. O Público paga-se... Mas realmente nunca me importei com isso. É um prazer ler em papel todos os dias o melhor jornal da nossa praça.
Por fim, Manuel António Pina. O ser último desta lista foi propositado. Queria destacá-lo. Porque de todos os cronistas é para mim o mais lúcido. O mais audaz. O com quem mais me identifico. O poeta-jornalista-licenciado em direito. A sua crónica de hoje fez-me sorrir porque, em vez de pensar concordo contigo pensei ele concorda comigo. E o saber que não estou só nas minhas opiniões - e que por as ter críticas severas me causaram (mas apesar de tudo continuei a tê-las) - me encheu de orgulho. Para memória futura aqui fica a sua crónica, com destaques meus...

"O "jornalês" que escrevemos

Segundo o "Correio da Manhã" (CM), Humberto Delgado teria ontem feito 100 anos "se não tivesse sido morto pelo regime que apoiou e mais tarde tentou derrubar". Também decerto Assurbanípal haveria de fazer um dia destes 2633 anos se não tivesse sido envenenado? Não sei de que fiáveis informações disporá o CM acerca da secular expectativa de vida do general, mas temo que não sejam mais do que as do autor da notícia acerca da volatilidade da língua e do detestável hábito que as palavras têm de pôr-se a falar sozinhas, arrastando divertidamente pelo nariz aqueles incapazes de se fazer respeitar por elas. Os jornais abundam hoje em frases descasadas e em erros de ortografia (dos de sintaxe melhor é nem falar). Os velhos revisores foram-se e as redacções encheram-se de jovens produtos do sistema de ensino. O resultado foi catastrófico. Dêem-me um jornal onde se use hoje uma voz perifrástica ou tão-só um tempo composto e onde o mais-que-perfeito não tenha sido soterrado sob pau para toda a obra do perfeito simples. Curiosamente, é às vezes gente que tem por profissão escrever em português e escreve incompetentemente em português quem mais exige políticos competentes, médicos competentes, magistrados conhecedores e competentes?"