quinta-feira, novembro 10, 2005

Perdido na descoberta...

Foi preciso esperar uma noite de fim de verão para descobrir o inevitável. Para descobrir que as árvores não duram até à eternidade. E que as profundas raízes arrancadas podem ser pela força destruidora da tempestade. Foi preciso calcorrear milhas para perceber que a pátria que julgava incorrupta também pode cair. Porque do futuro nada podemos saber. E as revoltas podem acontecer depois de muita paciência. E nem aos santos lhes podemos pedir esperança no que não pode vir.
Foi preciso um regresso às origens para perceber que tinha estas perdidas para sempre. Um reencontro assustado com o que me rodeou desde o começo do mundo. Uma imagem afinal falsa do que julgava verdade.
Foi preciso descobrir que o que julgava que amava era apenas agressão e falsidade e nervos. Que por mais que buscasse a paz só acharia o inevitável fogo da guerra e do ódio.
Foi preciso adaptar-me para perceber que sou inadaptável. E que por mais que corra e corra e corra jamais acharei o que desejo ardentemente achar.
Foi preciso reparar duas vezes em ti para me aperceber que o olhar com que me miravas não era de paixão. Antes buscavas a ferida que habita na profundidade do meu ser, e que só inconscientemente sabes existir.
Foi preciso o meu tudo para saber que não houve nada. Sonhar com a conquista do mundo para acabar conquistado pela evidência: a descoberta de que me perdi algures, num país longínquo. E que, talvez, como Ulisses, possa sonhar um dia em regressar à ilha que afinal não existe.