sexta-feira, janeiro 13, 2006

Visão míope

Agora que a Grande Reportagem acabou, ando em busca, no miserável mercado português, de revistas de informação, de um título que me dê alguma satisfação ler. Ontem, por causa da antologia do Fernando Pessoa, que saía em conjunto com a revista, decidi comprar a Visão. Desgraça! Qualidade nula. Nenhuma reportagem digna desse nome. Mau grafismo. Mais parece estarmos a ler uma revista de publicidade, onde entre algumas páginas surgem umas fotos mal tiradas com um pequeno texto. É isso a notícia.
Textos pouco consistentes, e com falsos valores, é o que mais surgem. Tomo o exemplo da "reportagem" sobre o carro utilizado por Santana Lopes quando foi Presidente da CM Lisboa. Que me interessa o carro? E aos leitores, o que lhes interessa o preço e a cilindrada dos automóveis dos chefes de estado? Se esse texto estivesse numa revista de sociedade, dirigido a públicos pouco exigentes, ainda compreenderia. Ora, esta é a Visão. Uma revista de informação que se orgulha, nas primeiras páginas, de ser o segundo seminário mais lido do país. Não se preocupando, no entanto, em ser o primeiro, já que esse lugar pertence ao Expresso, seu irmão mais velho.
Apesar de tudo, ainda há alguns oásis na Visão. Principalmente nas crónicas de opinião. De entre estas, cito a fantástica crónica de Manuel António Pina, grande poeta e ex-jornalista do nosso burgo. Recorda este Cáceres Monteiro, recentemente falecido. E com ele os seus amigos que já partiram. E, como último e pequeno parágrafo, faz uma síntese genial do que é a amizade:

[...]
Porque a amizade (já o disse antes) não é uma dávida do céu, é uma espécie de tesouro escondido onde só se alcança depois de ter vencido caminhos e tempestades, e ter enfrentado monstros e gigantes, e ter atravessado florestas e subido montanhas, mil vezes soçobrando e mil vezes recomeçando de novo a partir da solidão e do exílio. E porque cada um de nós pode, acerca dos amigos, dizer como nosahadith : «Eu era um tesouro escondido e por eles fui revelado...»
[...]

Mais palavras para quê? Um texto comovente, que recortarei da Visão e a meio de um livro colocarei bem guardado. E quando me quiser lembrar desse precioso valor da amizade, irei buscar este pequeno tesouro literário por Manuel António Pina oferecido, e com ele procurarei um sorriso colocar na minha face.

1 Comments:

Blogger delusions said...

adorei o excerto...transmite a ideia da amizade de forma muito bonita...passa a comentar no meu s puderes...

bjs

10:32 da manhã  

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