segunda-feira, novembro 21, 2005

O céu sobre Berlin


Eu já vi o céu sobre Berlin. Numa tarde quente deste agosto, subi até ao Anjo da Vitória, e de lá, sob o céu azul, mirei toda a imensidão da capital alemã. Quando pequeno, fascinara-me o começo de um filme em que a câmara-olhar do espectador percorria os céus de Berlin, acabando o seu movimento a dar uma volta completa a esta estátua, onde para além do anjo se encontrava outro anjo, personagem principal o filme.
Este filme era já a segunda parte de outro, que também me fascinara, e se passava também em Berlin. O título desse filme é Der Himmel über Berlin, cuja tradução é o título deste post. Um filme sobre anjos e, mais do que isso, um cântico de amor, pela arte do cinema, a uma cidade dividida (o filme era de 1987).
A continuação deste filme - com o título de Faraway, So Close! - passa-se já numa Alemanha unida. O muro fora derrubado. Um povo inteiro, para mim admirável apesar da barbárie que trouxeram ao século XX, podia de novo viver na sua totalidade.
Só percebi, quando estive em Berlin, da metáfora do começo de Faraway, So Close!. Berlin é sobrevoada para mostrar a sua unidade. E a volta completa ao anjo, que depois se fixa no olhar do personagem principal (também ele um anjo mas não em estátua), é a metáfora da reunificação. Da vitória final de um povo que se vira privado, durante quarenta anos, de metade de si.
Muitas vezes, nestas tardes de outono em não há nuvens, penso no céu de Berlin. Julgo sentir de novo, por instantes, o tórrido calor da capital alemã deste agosto em que por ela passei. Nela senti a História de uma Europa que no pós-guerra se quis unir. E refazer a sua própria História. Espero, num destes verões futuros, voltar a Berlin, nome que me fascinou desde a infância. Cidade gigantesca, onde qualquer um se sente perdido na sua imensidão territorial, e também histórica. Mas onde o céu, por intermédio dos anjos, parece querer tocar o Homem e trazer-lhe uma nova esperança.