A geração mil euros
Muito interessante, e precupante, o tema do Courrier Internacional desta semana: o trabalho precário entre os jovens. A nova geração europeia de formados nunca teve tanta educação e informação. Como nunca uma geração esteve tão bem preparada para o mundo do trabalho. No entanto, a maior parte dos jovens em Espanha e no resto da Europa têm, neste momento, a pená-los o fantasma de um futuro incerto.
Portugal vive a mesma situação, como há poucos meses a revista Sábado alertou. Jovens que ainda não poderam sair de casa dos pais. Que não têm condições sócio-económicas suficientes para criarem uma família, uma das bases do Estado e de outras instituições como a Igreja. Jovens que vivem atormentados durante meses com contratos a prazo. Estas razões podem criar, como aponta o artigo do jornal italiano L'espresso publicado no Courrier internacional, "mal-estar social, frustração profissional e desinteresse pela política."
Fernando Madrinha, no editorial, aponta como causa desta geração dos mil euros o fim do Estado-Providência. Vale a pena ler todo o seu texto, mas destaco especialmente este parágrafo:
[...]
Ora, o Estado-Providência na verdade é já um mito para muitos milhões de
nacionais desses países. Existe ainda e cumpre cabalmente a sua função junto
das gerações mais velhas, assegurando por enquanto as pensões, a assistência
médica ou os subsídios de desemprego. Mas para os mais jovens, que
estão no mercado de trabalho, por vezes há bastante mais do que uma década,
o emprego certo e seguro não passa de um sonho irrealizável. E a garantia
de uma almofada do Estado quando mais tarde precisarem dela é um mito
ainda mais distante. Falamos dos milhões de licenciados que acumulam mestrados
e doutoramentos, estágios a seguir a estágios, em muitos casos não
remunerados, ou empregos temporários e mal pagos tendo em conta a sua
formação superior. São pessoas cujo presente instável só pode assegurar-
lhes um futuro ainda mais incerto. Jovens que frequentaram um curso superior
e nunca o utilizaram — porque ao longo de décadas se desprezaram os
cursos médios e se massificou o ensino superior, porque as universidades se
tornaram um negócio em si mesmas, forjando cursos que não servem para
nada e o Estado, não só os autorizou, como se demitiu de intervir minimamente
para que o ensino tenha o sentido que deve ter, isto é, o de formar pessoas
capazes de preencherem os empregos existentes e os mais necessários.
[...]
Geração mil euros. Uma geração em risco de ver os seus sonhos morrerem. Uma geração com medo do futuro. A geração à qual eu, e muitos otros jovens, pertencem e irão pertencer.
Um problema que deve ser debatido com a máxima urgência, no meu entender, para mais rapidamente se encontrarem mais soluções.
também no blog JS Porto
1 Comments:
Também em breve vou estar nessa situação...em que "o emprego certo e seguro não passa de um sonho irrealizável"
gostei mt...fica bem*
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