Hamlet
Hamlet é um dos mais famosos personagens de teatro, fruto da visão genial de Shakespeare. A grandeza desta personagem é a de qualquer pessoa poder criar, enquanto convive com Hamlet na leitura da peça homónima, uma imagem própria do personagem. Uma espécie de encontro com o Hamlet que pretendemos. Não é uma personagem plana. Pelo contrário. O princípe da Dinamarca é de tal modo elaborado pelo seu criador, que cada leitor o pode interpretar do modo que melhor entender. Mesmo na transposição da peça para o palco, a personagem já contou com diversas interpretações. Desde as mais clássicas, que apresentam um Hamlet "filosófico" e determinado, até àquelas que mostram um Hamlet indeciso, angustiado e perdido nas suas orientações sexuais.
Desse modo, Hamlet é uma espécie de personagem todos-nós. Ele carrega em si as perguntas da Humanidade, e a ambiguidade do ser que quer agir - no seu caso vingar o pai - sem saber como. mas estas linhas que escrevo, tenho que ressalvar, são a minha interpretação de Hamlet. Do meu Hamlet. Por vezes cruzo-me, na memória, com ele. Com certas passagens do texto shakesperiano. E aquela que mais me fascina é quando Hamlet fala com o fantasma do seu pai. Quando este lhe diz que foi assassinado pelo irmão, tio de Hamlet. Acto sangrento para usurpar o trono e casar-se com a mãe do personagem. Durante esse diálogo, o princípe raramente fala. Apenas umas breves exclamações de horror lhe saem da boca. Ao contrário das outras partes em que entra na peça, em que é a voz principal. Aquela que mais alto quer falar. Mas aqui, nesta passagem, em que ficamos a saber dos tristes fados do defunto rei da Dinamarca, Hamlet ouve o pai. E, a grandeza do momento, é o modo como nós podemos imaginar a expressão de Hamlet. Eu imagino-a horrorizada. Rosto lívido com olhos arregalados. Mas sem o corpo tremer. Por um lado o horror. Por outro a angústia do não saber o que fazer - vingança, mas quer mesmo vingança? - perante o está a saber. Porque Hamlet é um personagem também passivo. O seu "ser ou não ser" é a expressão máxima dos mundos ambíguos que habitam a alma de Hamlet. A grandeza do personagem nasce, assim, do seu desdobramento. E por isso eu imagino as suas atitudes, e sua linguagem corporal, também de forma ambígua. Ele é o personagem que diz o que não sente e faz o que não quer. A contradição entre desejo e atitude. O Homem que afirma a obscuridade e questiona-se sobre a evidência?
Quantos Hamlets terá o mundo...?
1 Comments:
Sempre gostei dessa peça de Shakespeare... Inclusivé cheguei a assisti-la em teatro "Um Hamlet a mais"... Hamlets no mundo? Deve haver alguns concerteza...Fica bem*
que mail tens activo?
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