terça-feira, fevereiro 21, 2006

A geração mil euros

Muito interessante, e precupante, o tema do Courrier Internacional desta semana: o trabalho precário entre os jovens. A nova geração europeia de formados nunca teve tanta educação e informação. Como nunca uma geração esteve tão bem preparada para o mundo do trabalho. No entanto, a maior parte dos jovens em Espanha e no resto da Europa têm, neste momento, a pená-los o fantasma de um futuro incerto.
Portugal vive a mesma situação, como há poucos meses a revista Sábado alertou. Jovens que ainda não poderam sair de casa dos pais. Que não têm condições sócio-económicas suficientes para criarem uma família, uma das bases do Estado e de outras instituições como a Igreja. Jovens que vivem atormentados durante meses com contratos a prazo. Estas razões podem criar, como aponta o artigo do jornal italiano L'espresso publicado no Courrier internacional, "mal-estar social, frustração profissional e desinteresse pela política."

Fernando Madrinha, no editorial, aponta como causa desta geração dos mil euros o fim do Estado-Providência. Vale a pena ler todo o seu texto, mas destaco especialmente este parágrafo:

[...]
Ora, o Estado-Providência na verdade é já um mito para muitos milhões de
nacionais desses países. Existe ainda e cumpre cabalmente a sua função junto
das gerações mais velhas, assegurando por enquanto as pensões, a assistência
médica ou os subsídios de desemprego. Mas para os mais jovens, que
estão no mercado de trabalho, por vezes há bastante mais do que uma década,
o emprego certo e seguro não passa de um sonho irrealizável. E a garantia
de uma almofada do Estado quando mais tarde precisarem dela é um mito
ainda mais distante. Falamos dos milhões de licenciados que acumulam mestrados
e doutoramentos, estágios a seguir a estágios, em muitos casos não
remunerados, ou empregos temporários e mal pagos tendo em conta a sua
formação superior. São pessoas cujo presente instável só pode assegurar-
lhes um futuro ainda mais incerto. Jovens que frequentaram um curso superior
e nunca o utilizaram — porque ao longo de décadas se desprezaram os
cursos médios e se massificou o ensino superior, porque as universidades se
tornaram um negócio em si mesmas, forjando cursos que não servem para
nada e o Estado, não só os autorizou, como se demitiu de intervir minimamente
para que o ensino tenha o sentido que deve ter, isto é, o de formar pessoas
capazes de preencherem os empregos existentes e os mais necessários.
[...]

Geração mil euros. Uma geração em risco de ver os seus sonhos morrerem. Uma geração com medo do futuro. A geração à qual eu, e muitos otros jovens, pertencem e irão pertencer.
Um problema que deve ser debatido com a máxima urgência, no meu entender, para mais rapidamente se encontrarem mais soluções.

também no blog JS Porto

sábado, fevereiro 18, 2006

A promessa

Aqui há algum tempo atrás fiz uma promessa a mim mesmo. Uma promessa que quero a todo o custo cumprir. Sei que os caminhos que terei de percorrer para a conseguir serão difíceis. Sinuosos.Mas confio na minha vontade. Vontade nascida do desgosto de ter perdido primaveras em outros caminhos que com a minha personalidade não se coaduanam.
A promessa que a mim mesmo fiz será a realização de um sonho de infância. Assim o espero. E com apoios ou sem eles quero chegar onde almejo. Nem que para isso tenha que cometer loucuras.
Nestes tempos em que tudo é fácil, poderia esquecer este sonho. E deixar que o resto da vida corresse ao sabor de suaves brisas. Procurar uma réstia de sol quando a luz faltasse. Mas para quê procurar essa réstia e viver ao sabor das brisas quando algo maior eu quero? Não quero ser como aqueles cujos sonhos são vagos. Muitos desses, são como aquelas vozes tentadoras ouvidas pelo eu poético de José Régio - vem por aqui! Porém, tal como o poeta, eu prefiro olhar para os rostos dessas vozes melancolicamente - havendo no meu rosto ironias e cansaços - e seguir o meu caminho. Uns têm os seus ideias de vida. Outros contentam-se com o pouco, preferindo ficar indefinidos. Eu, no entanto, quero seguir a Direito pelos caminhos que no meu futuro quero traçar. Porque cumpri-lo, mais que tudo, é cumprir-me a mim próprio. E esse sonho-promessa alcançarei. Nem que para isso tenha que:

[...]
...escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
[...]

José Régio - cântico negro