quinta-feira, abril 21, 2005

O adeus à Taça...

Já cá não mora a Taça dos meus sonhos. A Taça que esperei anos para ver o meu clube conquistar. Foi-se, de forma um pouco envergonhada, embora pelo correio, com destino à sede da UEFA (fonte Maisfutebol). Voltárá um dia? Quase de certeza. O FC Porto é daquelas equipas que - tal como o AC Milan, o Barça ou o Bayern - entraram para um restrito panteão de eternos campeões, cujo objectivo de conquista é sentido por uma nova geração de jogadores, mais cedo ou mais tarde. O Porto precisou de dezassete anos para reconquistar a taça dos campeões. O Real Madrid de trinta e dois. O Ajax e o Bayern de quase trinta anos também. Por esta lógica, julgo que mais cedo do que se espera teremos o Porto com o "caneco" outra vez nas vitrinas...



Vitrinas? Agora me lembrei que a direcção do FC Porto não gosta de mostrar os troféus aos adeptos. É verdade! Não tem museu (algo que os nossos rivais há muito tempo têm) e não sabe quando o abre. Para mostrar as taças conquistadas aos adeptos obriga-os a pagarem vinte euros. Este dinheiro já tinha gasto eu em bilhetes para apoiar o clube na caminhada para o título europeu do ano passado. Gritei. Vibrei. Chorei. Sempre pelo clube. Sempre com cachecol azul e branco ao pescoço. O mínimo que a direcção podia fazer era disponibilizar um local para mostrar aos adeptos as Taças. A Taça dos Campeões, desde que foi conquistada que, salvo raras aparições e a tal sessão fotográfica cara que obrigava os adeptos a pagar, que esteve invisível. Melhor, era visível: mas só pelo presidente Pinto da Costa. Aliás, raramente me choco com as afirmações do Presidente, pessoa que muito admiro. Que tudo fez e faz pelo FC Porto. Mas lembro-me de ter ficado espantado com a arrogância com que disse, em vésperas da final contra o Mònaco, que esperava que a Taça "ficasse um ano no seu gabinete, tal como em 1987". Ou seja, em relação a mostrar troféus os adeptos não contam. Porque Pinto da Costa julga que é o clube. E os adeptos, ou pagam bilhete para tirarem uma fotografia ou então vêm a Taça no estádio num começo de época qualquer. O resto do tempo está para ser admirada num gabinete. Os adeptos também são clube. E as taças não devem ser invisíveis.

terça-feira, abril 19, 2005

Conclave dia 2 e último - Habemus Papam: Benedictus XVI

Várias sensações me percorreram hoje, dia em que pela primeira vez um Papa vi ser eleito. Desde ontem que acreditava que a Sé Vacante da Igreja Católica não duraria mais uma noite. Por isso, agitado andei hoje até ao momento em que vi fumo branco a sair da famosa chaminé da Capela Sistina. Durou pouco o tempo entre a pequena ansiedade de viver um momento histórico e o momento de uma curta e incontida euforia, por saber que a Igreja tinha um novo pontífice. Ainda não sabia o seu nome e já estava «colado» à televisão do café ao lado da minha escola. Uma certa tensão nervosa mas alegre, parecida àquela sensação de nervosismo quando vejo no Estádio um grande jogo europeu do meu clube (alegria por ver um bom jogo de futebol e ao mesmo tempo apreensão pela forma como a equipa joga) me invadiram. Passavam os minutos e ainda não se sabia quem era o novo chefe da Igreja Católica. No café diziam-se piadas e apostas se faziam. Ao fim de um tempo de espera já longo para a ansiedade reinante o cardeal camerlengo finalmente assoma à janela. Começa a tradicional prédica latina que antecede a chegada do novo Papa à varanda (Annuntio vobis gaudium magnum habemus Papam). «Quem será, quem será...» martelava-me na cabeça esta pergunta. Começa o cardeal a dizer quem é o escolhido, e, a meio ouço Josephum. «Meu Deus - pensei - é o Cardeal Policarpo». Ratzinger, ouço em seguida. E de repente, senti como se um balde de água gelada me tivesse escorregado da cabeça pelo corpo abaixo. O mais conservador dos cardeais era o novo Papa...



A figura do Cardeal Ratzinger não me faz simpatia. As suas ideias conservadoras, como a "dureza" na forma como vê e pensa a Igreja - bastante dogmático o seu modo de estar - faz-me temer um pontificado sem grande brilho e que não se livra de bastantes comparações com João Paulo II. Espero enganar-me, mas acho que o agora Bento XVI não é uma figura evangelizadora. Prefere ser um «intelectual», pensador de Deus, não levando a Igreja pelo Mundo fora pois sabe-se que é pouco de viajar. Não me parece que seja de grandes contactos com o povo, fechando-se assim no Vaticano. Os princípes da Igreja pretendem talvez assentar um pouco a poeira das renovações feitas pelo Santo Padre anterior. Mas na minha opinião deviam ter arriscado um pouco mais, escolhendo um Papa fora da Europa ou que fizesse a ponte entre o velho continente e os países mais pobres do Hemisfério Sul onde se encontra grande base da fé católica.

Assim, desiludi-me no primeiro conclave da minha vida. Gostava de ver outro Cardeal a calçar as sandálias do pescador. Mas reconheço que Bento XVI pode não ser o mesmo que Cardeal Ratzinger. O tempo o dirá...

segunda-feira, abril 18, 2005

Conclave - dia 1

Fumo negro saíu da primeira votação realizada neste primeiro conclave do século XXI. O sucessor de João Paulo II não está encontrado e teremos de viver - pelo menos - mais uma noite de Sé Vacante. Tudo isto é uma novidade para mim, e desperta-me imensa curiosidade. Uma certa ansiedade até. Quero estar em frente à televisão quando finalmente o Novo Papa for eleito. Esse novo Papa, no entanto, terá grandes provas a dar ao Mundo, pois é um fardo demasiado pesado a herança do anterior Papa. Como este Papa ainda está presente na memória das pessoas. Devido ao seu longo pontificado ele foi para muitos, principalmente os da minha geração, O Papa. Um Homem a quem nos acostumamos respeitar e admirar. Era um muito grande Homem, e teve a coragem de promover o diálogo ecuménico entre as várias religiões. Teve a coragem de chamar os jovens a uma Igreja Católica que estava a envelhcer. Soube pedir perdão pelos erros históricos do Santo Ofício, e andou pelo Mundo a pregar a mensagem de paz do evangelho. Pois pela fé e pela espiritualidade é possível chegar à paz. E cada Homem de fé deve odiar a Guerra e as intrigas.
Assim, quem sair deste conclave destinado à cadeira de Pedro sofrerá imensas comparações com o Papa Wojtyla. Muitos nomes têm sido dados como papabili. Ora, a história da Santa Sé mostra que poucos foram aqueles em quem a Imprensa acertou no último século. A excepção foi Pio XII (quase houve sucessão neste caso) e, em parte, Paulo VI (João XXIII terá afirmado no leito de morte que o Cardeal Montini - futuro Paulo VI - deveria ser o continuador da sua obra). Desse modo, começo a olhar com desconfiança para os muito falados prováveis sumo pontífice, entre eles o Cardeal Patriarca de Lisboa D. Policarpo. Mas a vontade de Deus será feita no escrutínio das cento e quinze almas que a partir de hoje se reunem na fantástica capela sistina, pintada por Miguel Ângelo.
Embora sentisse natural orgulho se um dos dois cardeais lusitanos fosse o escolhido, também não me sentirei triste se o não forem. Um Papa, a partir do momento da sua eleição, torna-se uma figura universal. A sua nacionalidade é o Planeta Terra e não um país. João Paulo II foi assim, ao fazer com que todos os cristãos (ou não) o vissem como uma espécie de pai ou avô que os guiava nos caminhos da fé. Desse modo, espero um Papa que se faça admirar pelos seus actos, independentemente de onde nasceu.
Um Cardeal, que tem sido pouco falado, e por isso poderá ser uma surpresa, é o «jovem» (53 anos) Arcebispo de Lyon. Numa recente revista especial do Expresso, dedicada a João Paulo II, no artigo Os princípes da Igreja em que é entrevistado, Philippe Barbarin defende ideias muito interessantes e inovadoras. Faz uma crítica a esta era de globalização selvagem em que o Homem, por vezes, já não pode conversar em paz com um amigo devido ao absurdo da proliferação de televisões ou dos telemóveis a tocar. Preocupa-se com os jovens e com os seus modos de vida presentes, e tem um curioso comentário sobre a eutanásia, embora seja contra esta como é natural a um purpurado. Uma frase fica desta entrevista: «A inacreditável desigualdade na repartição das riquezas já não é só um desafio - é um perigo». Mais palavras para quê? É um Homem cujo percurso se deve seguir com atenção. Quem sabe se um (destes) dias chega a Papa.

segunda-feira, abril 11, 2005

A magia de Georges Méliès


Voyage dans la lune Posted by Hello

Quando vemos filmes cheios de efeitos especiais sentimos, certamente, algo de moderno no Cinema. Porém, o que poucos sabem é que esses efeitos de magia e modernidade surgiram nos primórdios do cinema. Mais precisamente com o criador/realizador francês Georges Méliès. Perdoem-me os Lumiére, mas estes apenas inventaram o dispositivo para porem fotografias em movimento. O verdadeiro génio dos filmes, que transmitiu a estes todas as suas possibilidades, foi Méliès.

No começo do Século XX já existiam filmes em que o homem ia à Lua (inspiração em Verne, o qual agora anda nas bocas do mundo pelo seu centenário). Existiam películas em que a mesma personagem se multiplicava, tirava a sua cabeça e fazia de vários clones notas musicais. Todos estes pequenos filmes, que há pouco tive oportunidade de rever, me comoveram pela sua ousadia. Pela sua magia e documentarismo. Mas o mais importante, é que com eles o cinema deu imediatamente um passo de gigante rumo às suas possibilidades de montagem e de efeitos especiais.

De facto, foi Méliès o primeiro a reconhecer que o «vulgar espectáculo de feira» que os Lumiére julgavam ter criado se podia transformar numa imensa indústria com públicos próprios. Prova disso foi a criação do seu estúdio em Paris, o primeiro estúdio de cinema mundial, em que realizou mais de quinhentos (!) filmes. Méliès tem, por isso, direito a figurar bem alto nos primórdios do cinema. Talvez mais do que os irmãos criadores da câmara de filmar, que fizeram do cinema apenas um passatempo.

domingo, abril 10, 2005

Da amizade...

Ter um amigo é ter um tesouro único. É sentirmo-nos ricos quando não temos dinheiro. É saber que temos alguém que pensa no nosso bem. É descobrirmos que não nos orientamos no mundo às escuras, mas com um amparo. Os verdadeiros amigos são aqueles que surgem a correr nos bons momentos, e que o fazem também nos momentos tristes para nos ampararem.
Quem não se sente mais seguro na vida com a certeza de uma bela amizade? Que ser frio e repugnante pode afirmar «não quero ter amigos?». Momentos há em que temos necessidade de estar sós. De conversarmos connosco. É normal que isso se passe com o ser humano. Porém, isso só pode acontecer com a certeza que temos um amigo que nos possa ouvir quando necessitarmos. Que esteja à distância de um telefonema, ou de uma mesa de café.
A certeza de que se tem um amigo surge quando a comunicação é espontânea. Quando o que um vai dizer é dito antes do tempo pelo outro.
Algures nesse maravilhoso livro que é a Bíblia (uma das minhas leituras de cabeceira), mais precisamente na parte do Eclesiástico, estão ensinamentos sobre a amizade. Aí encontra-se a descrição dos vários tipos de amigos, e há uma parte que nos fascina e julgamos que muito actual está: Dá-te bem com muitos, mas escolhe para conselheiro um entre mil. Se queres ter um amigo adquire-o depois de o teres provado.
Esta última frase é uma exortação ao saber escolher os verdadeiros amigos. De facto, muitos falsos rondam-nos, tentando a nossa confiança ganhar para mais tarde nos atraiçoarem. É preciso ter cuidado com eles. Mas se soubermos ganhar um verdadiero amigo, teremos um tesouro para toda a vida.
Nos tempos actuais é difícil encontrar verdadeiros amigos. Muito normal é vermos grupos de pessoas muito unidas, ou mesmo duos de amigos que estão muito juntos e não se separam. Mas passado algum tempo vêmo-los separados, sem se cumprimentarem quando cruzam. O que terá acontecido? Apenas não souberam valorizar a amizade, ou não descobriram o que é um amigo. Muitas desilusões acontecem por isso. Connosco já aconteceu descobrirmos quem nos atraiçoasse, mas também quem se afastasse sem sabermos bem porquê? Teremos tido culpa? Não resultou a amizade? Talvez a culpa seja nossa. Mas o importante é que não estamos sozinhos, pois um entre mil existe.

sexta-feira, abril 08, 2005

Da Torre dos Clérigos...


A minha amada pátria. Uma foto das muitas que tiro à minha musa inspiradora... Posted by Hello

Offline

Muito tempo se passou até este momento em que me abeiro do teclado do computador e volto a escrever no Ideias e Pensamento. À excepção do post anterior - que pouco considero devido à continuidade falhada após sua publicação - senti-me na necessidade de voltar a escrever para o meu "público imaginário". Porque o faço, pergunto-me eu ao mesmo tempo que teclo a questão? Necessidade de desabafar com o desconhecido e imenso mundo cibernético que nos invadiu? Talvez a Internet, esse maravilhoso novo mundo da comunicação, me tenha vencido de vez... Se até agora resisti, e deixei de escrever à bastante tempo, foi porque sentia que o ciberespaço é frio. Tão gelado que, por mais que se queira, não se conseguem revelar os verdadeiros sentimentos, o verdadeiro contacto humano. Uma ferramenta que bastante utilizo para comunicar é o conhecido messenger. Mas quantas vezes, ao contactar com alguém por intermédio desse software, não sinto uma imensa frieza entre mim e o meu interlocutor. Ouço-o imaginando a sua voz enquanto vejo as suas mensagens a surgir. Pode colocar com o texto emoticons ou onomatopeias. Mas não é a mesma coisa... A sociedade em que caminhamos está a tornar-se fria e banalizada nas relações humanas. E isso preocupa-me. Mas deixo isso para próximo post.

Enquanto estive offline da blogosfera muita coisa mudou e tanto eu mudei. Novos acontecimentos, quer alegres quer tristes, continuaram a moldar o meu ser numa caminhada que não sei quando acaba. Neste tempo, alegrias passadas trazem-me aos lábios sorrisos. Mas tristezas lembradas fazem um nó na garganta sentir. De tudo isto ganho uma experiência que me faz acreditar que o importante na vida é amar e sabermos amar os que nos rodeiam e as coisas próximas. O amor que sinto é pelo que me está próximo. Aquilo que me faz ter valores: a minha família, os meus amigos, os meus animais de estimação, a minha cidade, o meu clube, etc. Amo-os, porque me fazem ter a certeza que viver não é em vão.

Mas, por vezes, penso que o amor profundo que sinto pela vida está inserido num tempo de cólera. Numa era em que o egoísmo grassa na sociedade. Duvido então do meu modo de ser e confuso me sinto. Porém, acabo sempre por chegar ao sentimento primordial do amor. Pois é ele que importa. A minha moral e ética são uma sua manifestação.

Escrevo este texto num dia triste para o mundo. Foi hoje a enterrar um dos meus ídolos. Um homem de bem, de paz, de quem eu muito gostava. Não preciso de escrever um post sobre ele. A 17 de outubro escrevi um post a ele dedicado, cuja minha visão sobre a sua forte personalidade mantenho.
Pode ser lido aqui, como homenagem ao único papa que conheci. Descansa em paz João Paulo II. A tua luz continuará a iluminar o mundo.

Estou de volta à blogosfera. Sinto-me renascer...