segunda-feira, junho 30, 2003

Era uma vez… o Cinema

Saiu, finalmente, numa boa edição em DVD o grande clássico de Sérgio Leone, Once upon a time in América. Não vamos contar a estória do filme. Isso seria ingrato para aqueles que, muito provavelmente, não o conhecem. Vamos, antes, à base de referências pessoais, tentar aguçar o apetite para este formidável épico.

Era uma vez na América saiu, a um preço muito acessível, em DVD. Qualquer cinéfilo não pode desaproveitar a oportunidade de ver, talvez, o melhor filme de todos os tempos. Imaginem, os leitores deste blog, o filme perfeito. Aquele em que a estória, as sequências, a música, a interpretação dos actores, tudo isto e muito mais em conjunto formam uma obra de arte. Algo que não nos cansamos de visualizar. Algo que nos deixa espantados com a grandeza épica de uma estória sobre a América, seus ideais e valores. E ao mesmo tempo, uma estória que aborda temas que vão desde o amor – o amor profundo e aflitivo –, a violência, a traição, vidas perdidas e vidas bem sucedidas. Este filme tem tudo isso e muito mais. A música de Ennio Morricone é sublime. Os racords entre o passado e o presente da narrativa são fenomenais. A interpretação de Robert de Niro (no papel de Noodles) é de uma perfeição aterradora. Etc.
Filme de 1983, Era uma vez na América pretende ser a súmula do Cinema, numa altura em que este se vendia aos blockbusters, aos filmes de acção para consumo rápido das massas. Ao puro divertimento. Mas este filme pretende mostrar onde e como nasceu e se consolidou a América actual: nos anos 20, tempo de gangsters e de lei seca. E no meio da violência, que tempo há para o amor, para a amizade, para os antigos valores de uma sociedade em degeneração?
É por ser um filme tão directo, que aponta aos americanos o que eles são, que foi um fracasso de bilheteira, não ganhando sequer um Óscar da Academia das Artes e Espectáculos. Os americanos, ao contrário dos europeus, recusam-se a acreditar que mudaram. Que vieram de vários povos emigrados, vindo a nascer da violência das ruas de Nova Iorque. É esse o percurso das personagens centrais deste filme drama/épico: Noodles, Max, Debbie, Fat Moe, Vesgo, Otário. Uns vencem na vida, negando o amor e a amizade. Outros são trucidados por meios criados pela sociedade, chegando à conclusão que a vida lhes falhou. Tudo isto filmado com uma perfeição inesquecível.
Este é o filme de uma vida. Aquele que se leva para a ilha deserta. Já não víamos o filme há dez anos. No entanto, havia cenas que nos perseguiam, frases que nos assaltavam a memória. É o caso da cena da morte de um dos elementos do bando de Max e Noodles – escorreguei… – que este último vinga a quente. Reparem no desacelaramento da imagem. É o caso de uma das mais belas cenas de amor de todo o Cinema. No táxi, a violação não-violação de Noodles a Debbie. Não é violência: é desespero de um ser que ama profundamente outro, e que a quer agarrar para dar algum sentido à vida. É a banda sonora. Música umas vezes lenta, outras rápida, consoante o andamento da estória ou a tensão que envolve as personagens.
O resto é verem o melhor filme de todos os tempos. Aquele que faz a súmula da história do cinema americano desde O nascimento de uma nação (1915) de David Wark Griffith. É verem e entrarem em êxtase frente ao televisor. Era uma vez… o Cinema.

quarta-feira, junho 25, 2003

Uma notícia bombástica e outra triste!

Sérgio Conceição, um dos «filhos do dragão» mais amado pela massa adepta, está perto de regressar às Antas. Esta notícia enche-nos de alegria. Se ela se confirmar, o FC Porto terá, no próximo ano, uma das alas direitas mais fortes da Europa. Conceição e Paulo Ferreira serão, sem dúvida, imbatíveis no corredor direito.

Força, classe, muito amor à camisola, um pontapé certeiro e grande experiência internacional são alguns dos atributos de Sérgio Conceição. Ele está próximo de regressar à casa-mãe, ao clube que o formou. E nós, portistas, só temos uma coisa a dizer se esta boa nova se confirmar: o bom filho a casa torna. Sérgio Conceição, mesmo que tenha jogado só dois anos (nas épocas de 96-97 e 97-98: tri e tetra respectivamente) na equipa principal do Porto, rapidamente impôs a sua classe de dragão ao peito. Agora, se regressar, terá como abono uma grande experiência em Itália.
A notícia da saída de Postiga vem ensombrar um pouco este estadoo de euforia provocado pelo eventual regresso de Conceição. Na nossa opinião, Postiga (ainda um pequeno Van Basten) ainda é muito jovem para se aventurar no estrangeiro, e principalmente numa grande cidade como Londres. A sua saída para o Tottenham Hotspurs parece-nos precipitada. Na próxima época o FC Porto vai disputar a Liga dos Campeões, e antes a Supertaça europeia, dia 29 de Agosto no Mónaco. Postiga falhará, assim, a sua primeira final europeia. Além disso, se McCarthy não vier para colmatar a sua saída, o FC Porto terá poucas soluções no ataque para atacar o título europeu. Confirmada que foi hoje a saída de Postiga, agora é esperar pelo sul-africano magnífico. Es+peremos que ele venha. Precisamos de jogadores como ele e Conceição para atingirmos no próximo ano a final da Liga dos Campeões.

Duaret SD

terça-feira, junho 24, 2003

ELE VEM A CAMINHO.....

Tres homens para um trono. Tres filhos para um pai escolher. Tres principes querendo ser reis....

também é disto que vive o livro do autor do blog O Por do Sol

Miguel LP

Mais um São João para recordar

Começou bem o meu S. João. Eu e um colega meu fomos cravados por um drogado que – se não lhe déssemos o desejado dinheiro para a sua droga – nos ia esfaqueando em plena rua 31 de Janeiro. Embora Rui Rio e os seus «amigos» camarários estejam fartos de nos encher os ouvidos com tretas sobre o fim da droga no Porto, os efeitos estão à vista: tudo continua na mesma, ou está a piorar.

Mas esqueçamos os problemas da cidade invicta. Centremo-nos na noite de folia. O S. João ainda é vivido com alegria e intensidade. Muita martelada e alho-porro são os condimentos da grande festa popular da cidade do Porto. Porém, este ano havia menos gente nas ruas. Podemos afirmar isto por experiência própria. Três factores podem explicar esta falta de adesão – que mesmo assim foi grande – à noite sanjoanina. O primeiro está relacionado com esta data ter calhado junto a um fim-de-semana, fazendo por isso muita gente ponte, umas mini-férias antecipadas. O segundo factor está relacionado com as três grandes festas do FC Porto (e ainda bem que as houve) que fizeram com que o povo se fartasse de comemorar. O terceiro é o factor económico, ou seja, as pessoas, devido à crise e ao aumento do desemprego – problemas que grassam no nosso país – não têm dinheiro para se divertirem. É pena que isto aconteça…
Mas o S. João, este ano, teve alguns dissabores e alegrias. Os dissabores estiveram relacionados com um engano/esquecimento por parte de um grupo que se desuniu. Já a chegar à Foz, o grupo em que nos inseríamos separou-se. Para um lado aqueles que foram para a Foz. Quatro pessoas, no qual nos inseríamos. Três outros amigos precisaram de ir à Praça da Galiza buscar o carro onde estavam as suas coisas. Prometeram ir ter depois à Foz. Porém, houve esquecimento. Ao Ivo Adão, ao Ricardo Bastos e ao André Viana as nossas desculpas sinceras. Não julguem que nós ficamos indiferentes ao que se passou. Sentimos culpa por nos termos esquecido de vós. Porém, este acontecimento serve para dar uma lição a todos sem excepção: o S. João é algo que não pode ser combinado à última da hora. Para o ano estaremos juntos – temos a certeza – e tudo acontecerá pelo melhor.
As coisas boas foram a diversão, o convívio entre amigos, o fogo de artifício e o continuar a sentir um orgulho imenso na cidade do Porto, no continuar das suas tradições. A força do norte e das suas gentes ainda está presente no S. João. E mesmo aqueles que não são do Porto gostam. È bom ver alegria nas pessoas que pela primeira vez vêm ao S. João. Outra coisa boa foi, nesta noite, termos finalmente esclarecido um mal-entendido com uma rapariga. Falamos, finalmente, com ela frente-a-frente sem precisarmos de «intermediários». Ela julgava que eu não simpatizava com ela e vice-versa. Porém, tudo ficou ontem esclarecido. E ainda bem. Nós não queremos, no nosso curso, intrigas ou conversas pelas costas. A essa rapariga mando, se ela também ler este texto, um beijinho de compreensão. Assim se dissipa a polémica sobre as mulheres, que se estendeu a este blog e ao O Por do Sol. Foi bom o S. João também por isto.
Finalizando. Viva a cidade do Porto, que amamos com intensidade e viva o São João.

Duarte SD

segunda-feira, junho 23, 2003

A pronúncia do Norte

Há um prenúncio de morte
Lá do fundo de onde eu venho
Os antigos chamam-lhe ralho
Novos-ricos são à sorte

É a pronúncia do norte
Os tontos chamam-lhe torpe
(…)
GNR – pronúncia do norte
In Rock in Rio Douro


A noite de S. João aproxima-se. De 23 para 24 de Junho, o povo sai à rua para comemorar…

Noite de S. João. Para os portuenses é mais uma noite de alegria e de convívio. Uma noite em que «ninguém leva a mal» conflitos, problemas, etc. O S. João é um símbolo do Porto. É a sua noite por excelência, exceptuando as vitórias do FC Porto nos últimos tempos. Porém, a cada S. João que passa receamos que as tradições populares, que tanto afirma positivamente a cidade, se percam. De facto, é possível de dia para dia ver que há no Porto um «prenúncio de morte», citando a linda música dos GNR.
A grande perda é, sem dúvida, a sua pronúncia, a sua linguagem própria. O trocar o V pelo B não é «parolice». É antes a afirmação de uma identidade, de uma força que caracteriza os portuenses. E eu, autor deste texto, sinto-me também culpado por este fim de uma linguagem. Esforço-me por falar um português correcto, de tal modo que um amigo me disse que eu falava «à lisboeta». Ele disse isso meio a sério, meio a brincar. Mas fiquei profundamente chocado por não falar antes correctamente o portuense. Ou seja, por muito que eu ame o Porto, as pessoas doutro lugar pensarão, pelo meu modo de falar, que sou do Sul. Que horror. Que desgosto.
A pronúncia do Norte é uma coisa lindíssima. Quem passear, por exemplo, no mercado do Bolhão não pode deixar de ficar encantado com a voz grossa das vendedoras. Elas ainda falam à «Puorto, carago!». E são, para todos os portuenses, um exemplo a seguir, pois é preciso urgentemente salvar a pronúncia antes que ela morra.
Por este motivo, na noite de S. João esforçar-me-ei para ser um bom tripeiro, e falar correctamente a maravilhosa pronúncia do norte. Carago!

Hoje pomos no nosso blog um poema de Caeiro, já que não dá para por um manjerico...



Noite de S. João para além do muro do meu quintal.
Do lado de cá, eu sem noite de S. João.
Porque há S. João onde o festejam.
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.

Alberto Caeiro
12/04/1919 (Athena, nº 5, Fevereiro de 1925)

quarta-feira, junho 18, 2003

Um novo tema, esperamos uma nova polémica

O Ideias e pensamento lança hoje, devido à proximiodade das comemorações sanjoaninas na capital do Norte, um tema de debate e reflexão.
O tema é sobre o Norte, à personalidade das suas gentes e ideias.
Está o Norte e, especialmente, a cidade do Porto subjugada ainda aos interesses da capital?
Tens orgulho em ser tripeiro?
Se não és do Porto nem do norte do país, o que achas desta região?
Rui Rio é um bom presidente da cãmara?

Estas são algumas das ideias que podem ser discutidas. Conto, para esta nova polémica, com a colaboração de todos os interessados. Este tema será debatido neste weblog e no O-Por-do-Sol.

Um abraço a todos
Duarte

Contactos
e-mail conjunto do Ideias e Pendsamento e do O Por do Sol: idyops@hotmail.com
manda textos para este endereço

segunda-feira, junho 16, 2003

Eis outro poema, sem título, do JFA.


Conhece-me melhor, meu amor.
preciso de alguém que me abrace,
uma alma pura a quem eu possa contar
minhas aventuras, vitórias e mágoas.
Por seres mulher sabes melhor que os outros
Que minha alma em sofrimento está
Nada mais há na vida do que te poder abraçar…

Um beijo? Não,
Agora apenas desejo
que me ouças minha querida.
Ter uma mulher com quem falar
é ser transportado aos céus,
é não precisar de temer
as feras que avançam doentiamente na alma.

Poder amar-te é algo de maravilhoso na vida
Pois tu és tempo, és espaço, és indefinido.
És a única que entra no meu coração
Brinca com ele como uma criança
E o afaga para ficar contente.

Minha adorada, que o nosso abraço
Para sempre nos una.
Contigo ao lado a vida será a mais brilhante aventura.
És mulher, eu homem,
Mas quando nos abraçamos somos um só ser
Que amor e felicidade irradia.
E tomamos as estrelas como companheiras
E o silêncio nosso filho.

João Firmino Alves

Pedi a JF Alves que interasse na nossa polémica sobre o sexo feminino. Não aceitou, mas mandou-nos para publicação alguns poemas sobre o tema do amor:


Poema do amor frustrado

Um dia disseste que me amavas
Profundamente, e o dizias
Com tua boca pequena e exuberante.
Teus olhos eram água de verdade
De certeza…

As tuas palavras prazer me eram
Alegria sem sofrer
Ode cantada de magia.
Mas tuas palavras pedras se tornaram
E as pedras se viraram rochedos
E estes o mundo inteiro…

Quando teus olhos ficaram secos
Minha alma de lágrimas se encheu.
Senti-me cão odiado e raivoso
Em busca de um sítio perdido para morrer.
O sonho acabou, eu o compreendi.
Adeus…

João Firmino Alves

O e-mail do nosso contentamento

A partir de hoje o Ideias e Pensamento e O Por do Sol têm um e-mail próprio.
Se és poeta e guardas a tua poesia na gaveta…
Se tens opiniões ou ideias mas não tens onde as publicar…
Se gostas de dar a tua opinião sobre o mundo que nos rodeia…
Então manda-nos isso por e-mail. Os melhores textos serão publicados nos nossos weblogs, sem qualquer tipo de restrições ou censura. Procuramos o livre pensamento.
A única coisa que te pedimos é a tua identificação, com contactos e localidade.
Junta-te a nós!

E-mail: mailto:idyops@hotmail.com


Duarte SD e Miguel LP

De novo as mulheres…

O administrador do Ideias e Pensamento e colaborador do O Por do Sol (Duarte Sousa Dias) teve, finalmente, um comentário sobre um seu texto. Foi, como é evidente, sobre o texto que escreveu sobre as mulheres. Nele Duarte chamava um nome feio a um tipo de mulheres que, infelizmente, existe. Não me parece que estas coisas sejam para se dizer em público. O comentário que eu agora vou fazer, e que vai ao encontro do texto de Gilli em O por do Sol sobre os homens, é uma espécie de resposta a Duarte.
Na minha opinião, Duarte foi longe demais, e não teve consciência que pode ferir a susceptibilidade de certas pessoas, especialmente mulheres. Não me refiro à sua explicação do que são as verdadeiras “prostitutas”, embora esta me choque como atrás digo. Refiro-me à parte em que Duarte diz «Mulheres (…) vocês têm que gostar de mim. Eu cá, não preciso de gostar de vocês…». Imagina, Duarte, que tens alguma mulher que te admira, que até gosta de ti. O que irá ela pensar? Só podes cair na sua consideração.
Sinceramente, não me acredito que tu penses que não precisas de gostar de mulheres, mesmo que isto tenha o sentido de amar. Tenho a certeza que um dia te apaixonarás, e quero-te ver depois a chorar, e a pensar que tiveste uma óptima oportunidade de ficar com o bico calado. Dedica-te às tuas ideias (muito más no texto a que me refiro neste artigo) e aos teus pensamentos, e deixa de dizer parvoíces.

Assinado:
Carlos Eduardo Oliveira

domingo, junho 15, 2003

Desculpa Duarte mas nao podia deixar de dizer isto...

Não tenho a honra de o conhecer pessoalmente mas não tenho dúvidas que é um dos maiores nomes da nossa cidade. O seu talento choca-me por ser tão brilhante que parece simples. É provavelmente um dos maiores nomes da nossa poesia contemporânea. Falo-te do João Firmino Alves esse grande poeta, e provavelmente grande homem.

Nao sou um grande amante de poesia como tu Duarte mas acho que sei reconhecer um grande talento e tens no Joao Firmino um talento espantoso. Espero que aceite a minha homenagem e espero desde já que o nosso poeta continue a ser presença assidua do Ideias e Pensamento... E quando criar-mos o nosso super-blog tenho a certeza que a poesia de João Firmino Alves será sempre uma importante mais valia.

Viva o talento. Viva o João Firmino Alves. Viva a Poesia. E viva o Ideias e Pensamento...e claro viva o Duarte SD

Um abraço

MIGUEL LP

sábado, junho 14, 2003

Caro Duarte. Venho hoje falar-te de uma coisa que me aconteceu à umas semanas e à qual nada liguei a principio. No final, acabei por descobrir que tudo o que me fora dito tinha razao de ser...

Foi à umas semanas, meu amigo, que fui à festa do nosso estimado André Viana, o mesmo que é um dos responsáveis pelos blog Discursos-Paralelos. Não tinha sido um dia muito feliz, muito por causa de uma certa donzela que me apoquentava o espiríto. No entanto tive uma tremenda felicidade porque na ordenação dos lugares, coube-me a mim MLP, ficar sentado ao lado de duas pessoas maravilhosas. Pessoas bonitas, simpáticas, divertidas, deslumbrantes e muito inteligentes. E são mulheres Duarte, não "putas" como tu tanto apregoas. Mulheres e das boas. Tu conhece-las bem. Falo das nossas queridas vilacondenses, da Edite e da Mariana.
Elas conseguiram, através daquelas artimanhas que só as mulheres parecem conhecer, por-me mais bem disposto comigo mesmo, se bem que aquela mulher continuava a não sair-me da cabeça. Eu sei, tu avisaste-me que ela não servia para mim. Mas tu também nunca gostaste dela (e ela também nunca foi muito com a tua cara) e não sabias o que era amar um anjo, caído das nuvens numa tarde quente de verão!
Ora voltemos ao tema pois lá ando eu de novo perdido num mundo que nunca teve lugar, em sonhos que nunca existião, numa mulher que ... O que eu te queria dizer é que nessa noite surgiu na conversa uma expressão que ao princípio, no meu estilo folião e desconcertante que me conheces, me pareceu ridícula. Nem liguei muito para te dizer a verdade. Só que, naquelas noites em que não conseguia dormir devido às lágrimas que me enchiam o rosto, dei de mim a voltar a essa expressão. "Mansão"! Conheces? Se calhar não. A criadora de tão interessante palavra foi a nossa boa Edite. Segundo ela, "mansão" seria aquela mulher/homem que nos é inacessível. Por várias razões, desde idade a beleza, passando mesmo pelo facto de ela poder não gostar de nós como nós gostamos dela. O termo foi usado para caracterizar a Paula, mas caro Duarte, acho que lhe consigui atribuir um sentido bem mais lato. Já reparas-te que todos nós, mesmo eu e tu, podemos ser "mansões". Todos nós podemos ter alguém no mundo que goste de nós mas a quem nós somos inacessiveis? É assustador não é Duarte. Só de pensar que faço uma mulher infeliz no Mundo neste momento fico logo com vontade de chorar. Mas isso é o meu eu-romantico que todos parecem nao gostar mas sem o qual nao vivo. Com esta descoberta a expressão ganhou significado novo para mim. Já viste como é. Passamos a nossa vida atrás de "mansões", de mulheres extremamente belas, atraentes, desejáveis, eu sei lá... mas no final nunca (ou quase nunca) acabamos com elas. Segundo a terminologia da Edite, acabamos com andares ou, se tivermos sorte, vivendas... E se calhar Duarte não é assim tão mau. Se calhar acabamos com essas vivendas ou andares porque é o que merecemos ou porque assim estava destinado. E perguntas-me agora tu," e as "mansões" acabam com quem?" Aí é que está amigo. Uma mulher que é "mansão" para ti e para mim, pode muito bem ser um prédio ou vivenda para outros. E assim é a vida. Feita de vivendas e mansões.... Até mesmo a Paula, que para mim era mais que uma "MANSÃO", era mais um Palácio Versailles, pode ser para tantos outros um prédio na Sé do Porto, ou um andar no bairro do Cerco. Depende. Para mim ela será, até ao fim da minha inóqua existência, o melhor que há. As lágrimas que eu chorei por ela (e ainda choro às vezes amigo) e que escorreram pela minha triste face, chegam para criar um 8º oceano, maior que o Pacífico, mais tumultuoso que o Atlântico, mais gélido que o Antártico.
Mas eu quero chegar a isto Duarte. Quero chegar a um ponto da maior importância e que vem por si só eliminar o teu longo comentário sobre as mulheres. Não há "putas", não há "princesas". Há vivendas e prédios. E só espero que eu na minha vivenda e tu na tua nos tornemos muito felizes. Porque merecemos. Merecemos mesmo....
Pensa nisto Duarte, pensa ....
Antes de me despedir apenas uma palavra de apreço. Um agradecimento especial a duas pessoas muito importantes. À inventora deste termo delicioso, a doce e irreverente Edite. À minha ex-noiva, pelo carinho que ela tem por mim (e por ti também SD) e por todos os seus amigos. É uma bela pessoa e uma pessoa deveras bela. Fica assim miúda... (e boa sorte para o Rio Ave). E também à Mariana. À Mariana tenho de pedir desculpa. Um dia chamei-lhe boneca de porcelana. Fui indelicado ao extremo e agora faço mea culpa. Nunca te poderia chamar boneca de porcelana porque as bonecas não têm sentimentos e tu tens, e muitos. Muitos e extremamente bonitos. Tão bonitos que assustam e alegram ao mesmo tempo. Tão bonitos que às vezes me dão vontade de tornar-me brasileiro (e quem me conhece sabe o que isso significa) e faze-la tao feliz como ela merece ser. Mas não o farei porque nunca o mereceria e assim deixo alegre milhões de "Irmãos brazucas" que assim poderão ter a sorte de acabar com esta preciosidade, num país onde se tornam cada vez mais raras. Bejinho grande Mariana e vemo-nos em Copacabana beach.....
Anyway, como diz o meu estimado amigo Leccio, o que importa é que é nestes momentos que se sentem os amigos. É graças a pessoas como tu Duarte, com quem troco estas ideias e pensamentos ao por do sol, ou a amigas como a Edite e a Mariana, que me alegraram num dia dificil, que dá gozo viver. E é para vós que vivo..... E vivo feliz...

Um abraço a todos

MIGUEL LP

sexta-feira, junho 13, 2003

Caros amigos do O Por do Sol. Depois de ter lido o artigo do Duarte SD (que comentarei no blog Ideias e Pensamentos como combinamos entre nós que fariamos) e o belo texto da Gilly não posso deixar de dissertar um pouco sobre o tema.
É a eterna guerra entre cão e gato, entre homem e mulher. Não podem viver um sem o outro mas queixam-se de tudo e mais alguma coisa. O Duarte, no seu estilo à Alvaro de Campos (irreverente, mordaz) disse algumas coisas com sentido. Outras nem tanto. Foi violento para com essa preciosidade que é a mulher. Não concordo com ele nesse aspecto (como em muitos outros caro amigo). Dizes tu amigo que há as feias mas simpáticas e as boazonas mas estúpidas. Abre os olhos rapaz, abre os olhos. No mundo das mulheres, como em tudo na vida, há de tudo. Olha só para a tua turma. Tens lá mulheres lindas de morrer e simpáticas como tudo. Tens a Edite, a Mariana a Rita eu sei lá... Nao podes ser assim. Elas também são mulheres e merecem todo o nosso respeito. Claro que há outro tipo de mulheres. Bebés, birrentas, infantis, chama-lhe o que quiseres. Há as mulheres como a Paula, de quem tu tao pouco gostas e para ao qual me avisas-te mas eu, cego pela seta certeira de cupido, nao quis ouvir. Agora pago as consequencias, chorando pelo amor perdido que nunca existiu...
Depois usas o termo "puta". Ó Duarte por amor de Deus. Putas sao as mulheres da rua (que tu elogias nao sei porquê) nao as tuas colegas, aquelas mulheres que passeiam pela rua. Claro que todos temos um pouco de "putas". Todos somos "lixados" às vezes mas nao se pode disparar assim para o ar. Pode ser que te caía um anjo nos braços para acordares. E quanto aos azares no amor Duarte, olha para este teu amigo. Olha para este rapaz que viste chorar, que viste sofrer, tudo por uma mulher que eu achei que era Afrodite, Artemisa, Psique, eu sei lá, mas que se revelou ser completamente diferente. Não melhor, não pior, apenas diferente. Todos tivemos e vamos ter desilusoes no amor. Tu, apesar de seres tu como eu sou eu, nao fugiste nem fugirás à regra. Porque é assim o mundo. O mundo dos amantes... O teu amor pela tua mae e pela tua avó, que nao tive a honra de conhecer, é tao belo e profundo que me escuso a comentar. Mas pensa meu amigo, que mulheres sao muitas, putas sao poucas. Muda a tua maneira de ser um bocado como eu tenho de fazer. Só assim nos encontraremos no altar, lado a lado com aquelas com quem iremos passar o resto dos nossos dias, filosofando felizes.... Força amigo Duarte...
Quanto a ti minha cara Gilly! Bela e sedutora Gilly como sempre nao podias deixar de defender as mulheres. Fazes bem porque também o faço. Tu e o Duarte ainda vao dar mt vida a este blog.... Os Homens sao piores que as mulheres. Eu sou um deles por isso sei-o. Somos mais anjinhos, nao resistimos a umas pernas ou seios, mas conseguimos ser bem piores. Mas há homens e homens. E para ti digo o que digo ao Duarte. Infelicidades sao para todos. E já sabes que concordo contigo em muitas coisas. Mas que vais ser feliz, isso é tao certo como o sol nascer amanha...
Força amigos.....que a vida precisa de n´s

MLP

A todos os que não sabem: Ontem faleceu um dos melhores actores norte-americanos de todos os tempos. 87 anos depois de ter nascido deixou ontem o nosso mundo. Para quem não sabe Gregory Peck foi dos mais amados e competentes actores de Hollywood. O seu primeiro grande papel foi no filme Duel in the Sun, em 1946 de King Vidor, representando um irreverente pistoleiro que luta contra o irmao pela posse de uma bela mas mortal mulher, Jennifer Jones. O final, com ambos a matarem-se um ao outro arrependendo-se nos últimos segundos de via, é dos mais comoventes da historia do cinema.
Depois veio a sua confirmação com Gentelman´s Agreement, em que representa um jornalista que faz tudo para escrever um artigo realista, mesmo que tenha de sofrer na pele. Não venceu o Óscar mas deu o primeiro passo para uma grande carreira. Seguiram-se filmes como The Speelbound, Moby Dick (excelente capitão Ahab) entre tantos outros. A consagração veio em 1962 quando venceu na categoria de melhor actor o ÓScar da Academia, pelo filme To Kill a Mockinberg. Apesar de Peck merecer, nesse ano Peter O´Tool superou-o. Foi mais um obrigado pela carreira. Peck virou-se para a televisão e ainda ganhou vários prémios. Deixou ontem o nosso mundo. A ele, por tudo, um muito obrigado...

Oi Duarte, grande Duarte. Hoje comemoramos. Sim hoje faz 115 anos que nasceu o nosso mestre, o grande Pessoa. Não a nada que eu possa dizer que tu já nao tenhas dito. Com razao e sentimento. Com a pujança que te caracteriza. Quero falar contigo caro Duarte. Quero dizer-te que me senti honrado com a tua resposta ao artigo que escrevi sobre as mulheres, e que teve aparentemente uma boa aceitação junto delas (agradeço dedsde já os elogios), mas acho que foste muito duro. Nao perdes pela defesa desse ser maravilhoso. Mas amanhã...
Hoje é dia de Pessoa e dele falaremos. Caeiro é o grande mestre e aquele com que mais simpatizo, "porque o Tejo nao é mais belo que rio que corre na minha aldeia". Reis é aquele com o qual mais me identifico na maneira de pensar mas Campos é a força e a raiva em pessoa, o verdadeiro Orlando Furioso. Furioso com uma nova era que nao satisfaz por completo. A ti deixo os elogios, os poemas, os comentários. Eu limito-me a ficar com ele. A ficar com Pessoa. Com o mestre....

Pessoa tinha consciência do seu génio. Isso está presente naquele fragmento do Livro do Desassossego em que ele afirma que, «depois de pensar às vezes, com um deleite triste »(é nosso o itálico), que não é compreendido pela sua geração. Porém, a sua família chegará ainda, aquele que o ama e o ´porá no lugar de farol que nos ilumina o caminho da nossa vida. Pessoa tinha de tal modo consciência da sua grandezea que a sua vida foi a escrita. Escrita para vencer o tempo, para ganhar uma família póstuma que o amaria verdadeiramente. Essa família já chegou. Somos nós, aqueles que o lemos e veneramos.



(...)
Que serei eu daqui a dez anos – de aqui a cinco anos, mesmo? Os meus amigos dizem-me que eu serei um dos maiores poetas contemporâneos – dizem-no vendo o que eu tenho já feito, não o que poderei fazer (se não eu não citava o que eles dizem...). Mas sei eu ao certo o que isso, mesmo que se realize, significa? Sei eu a que isso sabe? Talvez a glória saiba a morte e a inutilidade, e o triunfo cheire a podridão.
(...)
Fernando Pessoa – excerto de uma carta à sua mãe

Bernardo Soares, o semi-heterónimo, o cansaço de Pessoa da vida, foi o autor do Livro do Desassossego, a grande revelação literária dos anos 80. O livro foi considerado, em 1985, o livro do ano na Feira do Livro de Frankfurt. Teve várias traduções e edições pelo mundo inteiro. Foi este livro que projectou Pessoa para a sua descoberta internacional, sendo o nosso escritor hoje comparado em grandeza a Proust, Joyce e Kafka. Falava-se antes da Praha de Kafka, da Paris de Proust e da Dublin de Joyce. Com Bernardo Soares, passou-se a falar, no estrangeiro, da Lisboa de Pessoa...


Criei em mim várias personalidades. Crio personalidades constantemente. Cada sonho meu é imediatamente, logo ao aparecer sonhado, encarnado numa outra pessoa, que passa a sonhá-lo, e eu não.
Para criar, destruí-me; tanto me exteriorizei dentro de mim, que dentro de mim não existo senão exteriormente. Sou a cena viva onde passam vários actores representando várias peças.

Bernardo Soares
L. do D.

Ricardo Reis foi uma necessidade de Pessoa regressar às origens da escrita, da latinidade. Além disso, é o heterónimo egoísta e passivo, que não se quer meter com o mundo...

Sábio é o que se contenta com o espectáculo do mundo,
E ao beber nem recorda
Que já bebeu na vida,
Para quem tudo é novo
E imarcescível sempre.

Coroem-no pâmpanos, ou heras, ou rosas volúteis,
Ele sabe que a vida
Passa por ele e tanto
Corta à flor como a ele
De Átropos a tesoura.

Mas ele sabe fazer que a cor do vinho esconda isto,
Que o seu sabor orgíaco
Apague o gosto às horas,
Como a uma voz chorando
O passar das bacantes.

E ele espera, contente quase e bebedor tranquilo,
E apenas desejando
Num desejo mal tido
Que a abominável onda
O não molhe tão cedo.

Ricardo Reis
19/06/1914

Mas Alberto Caeiro foi o mestre. Ele ensinou as sensações aos aos seus pupilos, entre eles o próprio Pessoa. Foi um camponês que soube mais do que o comum dos mortais...

Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas – a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus.

Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.

Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso, fui o único poeta da Natureza.

Alberto Caeiro
08/11/1915 (Athena, nº 5, Fevereiro de 1925)

A grande za de Pessoa é devida, em grande parte, à criação dos seus heterónimos. Entre os principais encontra-se Álvaro de Campos, que num dia de aniversário, escreveu um dos mais nostálgicos poemas portugueses de sempre. E um dos mais vbelos, que fala sobre a infância, a saudade e o envelhecimento. É isso que cada um de nós pensará em cada aniversário... quando estivermos mais velhos.


ANIVERSÁRIO
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa como uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar pela vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim mesmo,
O que fui de coração e parentesco,
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui – ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas – doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado –,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

Álvaro de Campos
15/10/1929 (publicado na Presença, nº 27, Junho-Julho de 1930)

Onde nasceu Pessoa

Pessoa nasceu no largo de São Carlos em Lisboa. Ali perto ouvia na infância as badaladas da igreja do Carmo (acho eu). É esse o sino da minha aldeia...

Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.

E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.

Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho,
Soas-me na alma distante.

A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.

Fernando Pessoa

Pessoa - 115 anos depois

Hoje o Ideias e pensamento é dedicado exclusivamente à memória de Fernando Pessoa. Faz hoje 115 anos do seu nascimento. Para comemorar esta efeméride, nós hoje vamos punblicar ao longo do dia poemas e reflexões sobre a obra do maior escritor português de todos os tempos. De facto, ele é o supra- Camões.

Podem ir às fotos ver uma fotografia de 1915 deste gigante do pensamento.

quinta-feira, junho 12, 2003

Vamos lá a duas simpáticas polémicas!!!

Miguel Lourenço Pereira, o novo colaborador do Ideias e Pensamentos, não podia deixar de marcar a sua entrada neste weblog com a sua habitual irreverência e à vontade para escrever. Diz o que quer, e assim muito bem faz. Para lhe dar a minha resposta aos dois textos que aqui publicou, faço-o no seu/nosso O Por do Sol. É aí que a minha resposta aos seus textos se encontram.

Sigam o hiperlink… o por do sol

Ah, Bem-vindo MIGUEL!!!!! E tenho uma proposta para te fazer publicamente. No fim das férias, quando tivermos um considerável número de bons textos, unamos os nossos dois blogs! Façamos deles um único. O nome? Será discutido por nós, na altura certa.

terça-feira, junho 10, 2003

Continuamos........

O Por do Sol e o Ideias e Pensamentos continuam unidos em mais uma dissertação. Depois do grande FC Porto vamos falar do ....sexo oposto. É verdade. Aquilo de que os nossos sonhos sao feitos. O nosso companheiro SD é um grande entusiasta de mulheres e certamente apreciará este tema. Eu já nao sou tanto porque acredito que Deus deve ter alguma coisa contra os Homens para criar um certo tipo de mulheres que por aí abunda.
O SD não acredita no amor á primeira vez nem num amor forte capaz de unir duas pessoas. É mais um "fodilhão" como carinhosamente se pode apelidar, o verdadeiro cavalo lusitano. Para mim, uma mulher é algo muito especial. Antes de ser mulher é pessoa e é preciso ter isso em conta. As mulheres sao seres fascinantes. Nao falo da parte fisica. Aí pouco me interessa. Seios e pernas não tornam uma mulher numa pessoa bonita. O seu caracter é que faz isso. Por isso quando vejo a mania das gorduras e dietas em certas mulheres vejo que elas estao longe de serem pessoas bonita. Porque ligam mais ao que está por fora do que o que está dentro delas. Tenho conhecido demasiado desse tipo. O que eu aprecio nas mulheres caro Duarte é outra coisa. É a forma de estarem na vida. É a sua alegria de viver. O seu sorriso, o seu olhar profundo. Eu gosto de uma mulher quando me imagino a viver com ela para o resto da minha vida porque tem tudo o que eu quero. Nos ultimos meses vivi na ilusao que tinha encontrado essa pessoa. Infelizmente uns anos a menos e umas manias a mais impediram o meu sonho de se realizar. Essa rapariga, pela qual tive um amor que nunca mais terei por ninguem mesmo que queira, andará por aí, feliz á sua maneira. Felicidades para ela, porque apesar de me ter destruido o coraçao também me deu alguns dos meus melhores momentos.
Mas é de mulheres que falamos nao é caro Duarte. Perdi-me agora no mundo dos deuses. Bem mulheres. Acredito que um homem pode viver sem elas. Acredito sinceramente. Kant, o nosso Kant, morreu aos 80 anos virgem e sem ter amado alguém que nao ele próprio. Por isso possivel é. Mas será isso felicidade. Será felicidade nao ter ninguem a quem sorrir, a quem afagar, a quem contar estorias??? Acho que nao. Mas cuidado Duarte. Isso nao se consegue da noite para o dia. Em mil mulheres só há uma que preencha esses requisitos. As outras sao mulheres de ocasiao. Mulheres para tu dares e tirares o devido prazer. Mulheres a quem pagas um copo. Mulheres por quem dormes pela pátria. Nao sao a MULHER que eu apregoo e que busco com tanta insistencia. E é quando encontrar essa mulher, e eu a pensar que já tinha encontrado amigo Duarte, que finalmente clamarei aos céus: Sou feliz...

Um abraço do teu amigo

MIGUEL LP

Bem pessoal, o grande momento chegou. Eis que começa a colaboração à muito esperada entre Miguel Lourenço Pereira e Duarte Sousa Dias, ou o mesmo será dizer entre o blog O Por do Sol e o blog Ideias e Pensamentos. A partir de hoje haverá troca de ideias e pensamentos entre os nossos dois blogs, o que muito me orgulha.

Para primeiro tópico de discussão com o meu amigo Duarte SD, proponho um pequeno resumo sobre a grande época do nosso grandioso clube, que é o FC Porto. Eu sei que muitos discordarão comigo no que se segue mas peço-vos que tenham um pouco de paciência.
Em primeiro lugar, e mesmo não gostando dele, tenho de dar os parabéns a José Mourinho que soube pescar no mercado jogadores pelos quais ninguém dava anda. Era ver-me em Agosto com as mãos na cabeça ao ver Derlei, Nuno Valente, César Peixoto ou Jankauskas assinarem pelos dragões. Felizmente o tempo deu razão ao mister a quem devemos o título, a Taça UEFA, e se tudo correr bem, a Taça.
Palavra também a Pinto da Costa que apostou em Mourinho como só fizera com Artur Jorge. O técnico correspondeu mas a mão do presidente estava lá. Aliás, a grande contratação do ano foi dele. Maniche, o jogador de 2003. Mas não há bela sem senão e o Papa meteu a pata na poça ao dar ao estádio o nome de Dragão. Por amor de Deus! O nome do Estádio deveria ser ou das Antas, ou FC. Porto ou então José Maria Pedroto. Agora Dragão? Parolo demais para ser verdade.
Palavra também á equipa técnica. Rui Faria excelente, Baltemar um senhor, Aloisio, aquela serenidade. Também por aí passou o título.
E agora os jogadores. Vitor Baía voltou a ser o maior. E Scolari mostrou que é um imbecil. Mas Vitor sabes que tamos contigo. Nuno foi uma boa alternativa e o Bruno Vale mostrou ser um nome a seguir. Paulo Ferreira foi simplesmente eléctrico. O melhor lateral direito da Europa e um sucessor digno do "Seca" que mesmo assim não comprometeu. Nuno Valente foi uma agradável surpresa de sobriedade e regularidade coroados com o golo contra o Vitoria. O Mário Silva e as lesoes acabaram por andar ligadas, mas o número 3 soube dizer presente. No centro o "Bicho" foi senhor, um digno capitao, mostrando que estudou a licçao no exilio, em Inglaterra. O Pedro Emanuel mostrou que nem tudo o que vem do Bessa é mau e o Ricardo Costa foi uma agradável surpresa. E eu que já joguei contra ele. O Ricardo Carvalho foi o melhor central do ano e transformou-se num dos melhores do Mundo. Só o "gaúcho" continua a não ver isso. No meio campo esteve a magia do ceptro. Costinha foi o principe, o ministro, o Mundo. Por ele, por aquele golo em Alvalade ou em Barcelos ou no Bessa, esteve o ceptro do Porto. A nossa homenagem a esse grande home. Tiago, nao transpira talento mas é dedicado e isso também é importante numa equipa. Maniche foi o melhor jogador do ano. Sublime. Excelente. Esteve atrás, á frente, marcou golos decisivos e mereceu mais do que ninguém o título. E foi uma bofetada às politicas do que se diz ser o maior clube de Portugal. Alenitchev parecia querer voltar para a Sibéria mas Mourinho voltou a dar-lhe a alegria que precisava e o russo fez um fim de época fabulástico, com uma exbiçao sublime em Sevilha. O Capucho, bom é o Capucho tá tudo dito! O Marco Ferreira chegou tarde mas entrosou-se bem e foi importante tal como o César Peixoto que apesar de não ser titular traz sempre aquele cheirinho de tecnica que encanta. O Clayton apenas se viu em Denizlsi, e o Candido nao soube agarrar a oportunidade. Deco foi ele mesmo. Genial, um verdadeiro numero 10. O passe em Sevilha, o golo na Luz, as exibiçoes contra os encarnados e laziales. O melhor playmaker do Mundo a seguir a Zizou. E se o Porto o vende apenas por 4 milhoes de contos entao algo tá mal na SAD. Derlei vai ficar para a historia com o Homem de Sevilha, mas foi muito mais que isso. Foi garra e magia ao lono de todo o ano. Jankauskas trouxe da Lituania os golos que ajudaram o Porto no título e se nao fossem as lesoes teria sido mais decisivo ainda. Postiga por fim mostrou que o produto da casa é bom, muito bom, e ja contagiou a Europa.

E assim se fez um ano de glória, de taças e de prémios. Um ano azul..............

Miguel LP

segunda-feira, junho 09, 2003


As flores tombaram com a chuva
E eu que queria oferecer-te à sombra da árvore
Uma flor das que tanto amas
Não quis baixar-me e apanhá-las.
Só é belo o momento de oferecer uma flor
Se ela for arrancada em frente da pessoa amada.
Isso prova que o amor é mais forte que a sensibilidade
Que é a secura de arrancar da árvore flores.

João Firmino Alves – 2003


Sinfonia da alegria – em memória de Nietzsche, o poeta-filósofo

Ao precipício a que a vida nos leva cheguei
E para o fundo olhei com olhos embriagados de tanta perdição.
Que há mais para além do fundo que tento ver?
Procuro alegria, cores e som
Mas o silêncio domina as pedras que são de cor negra.
E se elas não ouvem e são descoloridas
Só me resta cantar, cantar para um mundo complexo,
Espaço cheio de vazios e tempo a passar sem tempo.

Porém,
Cantarei a eternidade até a minha garganta ficar rouca
E meus ouvidos assustados com meus gritos de alegria:
a vida é bela e quer eternidade
a eternidade não se quer efémera
quer-se para todos os tempos, quer ultrapassá-los!
Vamos, brisas às quais vos entrego a mão direita
Vamos, sonhos aos quais vos dou a mão esquerda
Fujamos do precipício que só leva à rendição da vida
Não nos deixemos contagiar pelo fácil e ao alcance de alguns passos.
Procuremos o arco-íris que está para além do humano
Busquemos a alegria, a vitória e a grandeza.
Só elas são motivo para viver
Só elas são motivo para lutar, lutar, lutar…
Contra o tempo e o silêncio.

Sigamos pela estrada fora a cantar
Tentemos divinizar nossas vozes, companheiros inócuos
Transmita-mos alegria, e sonhemos
Que o pensamento não é para aqui chamado.
Sejamos grandes e amemos o longe
Pois só neste se pode reflectir o Homem.


João Firmino Alves - 2003

Um novo weblog surge!

Miguel, tal como eu aluno do Curso de Jornalismo da Flup do Porto, é também um amigo especial. Ao contrário de muitos, ele tem algumas ideias e alguma «vontade» em conhecer e realizar coisas que não estão ao alcance de todos. As suas ideias, sempre discutíveis, têm, porém, uma frescura que já raramente se vê no panorama jovem e intelectual do nosso país. Os seus pensamentos poderão, agora, estar ao dispor de todos no seu weblog O por do sol.
Ele pede colaboração, para nas férias fazer do seu weblog um dos melhores da nossa pátria. Acredito que ele consiga, e desde já me disponho a colaborar com ele. Além disso, convido o Miguel a colaborar também no Ideias e Pensamento. Os nossos Blogs, pressinto, ainda vão dar muito que falar...

Um grande abraço e boa sorte Miguel...
Duarte Sousa Dias

O Por do Sol

sexta-feira, junho 06, 2003

Apresento, hoje, um texto que incluirei numa História europeia do FC Porto. Apresentarei, a partir de hoje, excertos de textos sobre jogos europeus da minha equipa. Espero que gostem...


Meia-final da Taça dos Clubes Campeões Europeus 1987 - 1º jogo

08/04/1987
FC Porto - Dínamo Kiev (2-1)
Ficha do jogo: Estádio: das Antas
Árbitro: Jan Keizer (holandês)

Constituição das equipas:
-FC Porto: Mlynarczyk; João Pinto; Lima Pereira; Celso; Eduardo Luís; Jaime Magalhães; André; Sousa; Vermelhinho; Gomes; Paulo Futre.
substituições: Sousa por Juary (45m.); Jaime Magalhães por Madjer (83m.).

-Dínamo Kiev: Tchanov; Baltacha; Bal; Kuznetsov; Demianenko; Yakovenko; Zavarov; Mikhalitchenko; Rats; Belanov; Blokhine.
substituições: Blokhine por Morozov (78m.); Belanov por Yevseyev (88m.).

- Golos: 1-0: Futre (49m.)
2-0: André (56m.) - GP
2-1: Yakovenko (78m.)

O FC Porto jogava pela primeira vez na sua história uma meia-final da Taça dos Campeões. Não era por acaso que chegara tão longe: tinha uma equipa onde jogadores experientes - como Gomes, Madjer, Celso entre outros - sabiam resolver muitas situações típicas dos noventa minutos de jogo. Tinha também um jovem talento que despontava nesta época para o estrelato internacional: Paulo Futre. No entanto, ia defrontar a mais poderosa equipa da União Soviética, que contribuía com uma média de dez jogadores para a selecção nacional do maior país do mundo. Era também um clube com pergaminhos no futebol europeu e mundial, sendo na altura o detentor da já extinta Taça das Taças. Era uma equipa em que se apostava para ser campeã da Europa. Assim, à distância de alguns anos, podemos compreender que esta meia-final era a Final antecipada.
O FC Porto entrou em campo sem medo, controlando o adversário. A defesa estava segura, e a táctica era a melhor para bater o "gigante soviético": não sofrer golos e atacar em força no contra-ataque com Futre e Gomes. Porém, a fama do jovem português chegara à URSS. Baltacha marcava-o implacavelmente. O Dínamo não dava espaços para os centrocampistas azuis-e-brancos apoiarem os atacantes, devido às mudanças de ritmo constantes. Era um "jogo de nervos", pois um desaire de uma formação podia ser a felicidade de outra. Isso quase aconteceu quando aos 20m. Blokhine marca golo. As bancadas das Antas, cheias de adeptos gelaram. Mas o árbitro prontamente assinala o fora-de-jogo. Era um aviso. Outros lances de perigo houveram na primeira parte, tanto de um lado como do outro. Mas o melhor estava para acontecer, depois do intervalo.
Artur Jorge, ao intervalo, retira Sousa e mete Juary afim de dar melhor consistência ofensiva à sua equipa. Recomeça o jogo para os últimos quarenta e cinco minutos, que ficariam na memória colectiva. Aos 4m. da segunda parte, Futre pega na bola, arranca pela direita fintando dois jogadores soviéticos, entra na área e chuta no momento em que o defesa Kutzenov mete o pé à frente da bola. Esta ressalta em Futre, parte em direcção à baliza, e faz um lindo chapéu ao guarda-redes. O jovem português delira, sai de campo e atira-se às redes de protecção que separavam as bancadas do campo. Demora algum tempo a festejar. Isso vale-lhe um amarelo, mas compreende-se a euforia. Quatro minutos depois do golo há outro acontecimento decisivo no desenrolar da partida: a redução da equipa do Dínamo a dez unidades. Bal, por acumulação, é mandado para os balneários por rasteirar Juary que perigosamente fugia em direcção à baliza. O Dínamo perdia assim o seu fôlego ofensivo. A equipa da URSS passa a defender.
Aos 56m. há penalty a favor da equipa portuguesa. De novo Kutzenov "ajuda" os portistas, ao meter a mão à bola num canto. André é chamado a converter. Marca a grande penalidade e a festa toma conta das bancadas. Acreditava-se que com este resultado o FC Porto estava muito próximo da final da Taça dos Campeões. O sonho estava a tornar-se realidade. Mas na continuação do jogo, o Porto falha bastantes oportunidades de dar uma certeza aos seus adeptos. Até que, devido a estar muito balanceado no ataque, a turma portista vê o sonho tornar-se desespero a doze minutos do fim: o Dinamo marca. Um erro de Celso, que não se faz à bola depois de um cruzamento pela esquerda. Não se antecipa, e Yakovenko acaba por marcar o tento solitário do Dínamo. Nesse momento, o Estádio das Antas gela. Todos viam o sonho portista desvanecer-se.
Acaba o jogo, e na cabina do vencedor do desafio havia desilusão. Artur Jorge mostrava-se abatido e achava o «resultado inglório». O capitão Fernando Gomes afirmava que «o resultado era dos mais injustos que obtera na sua carreira». O presidente Pinto da Costa, no entanto, continuava «esperançado em estar na final». Se, como já mostramos, o balneário azul-e-branco estava desiludido, o do Dínamo estava contente. Para Valeri Lobanovski, o resultado era óptimo pois iriam dentro de quinze dias jogar frente ao FC Porto em casa.
De facto, quinze dias ia separar a primeira mão da segunda. Iriam ser dias de esperança, de angústia. Conseguiria o glorioso passar a eliminatória?

quinta-feira, junho 05, 2003

Discursos da modernidade

Num tempo marcado pela falta de «vontade» e pelo apelo do fácil, três jovens estudantes do Curso de jornalismo da Fac. Letras da Universidade do Porto decidiram adaptar-se às modernas tecnologias da comunicação. Para isso, empreenderam-se na fundação de um weblog dedicado ao seu futuro mundo: o da informação. Este é um terreno que, há poucos anos, começou a sofrer uma rápida transformação. O mundo das notícias começa a ser difundido pela net, por estas auto-estradas da informação.

Conscientes de que não são pioneiros nem profissionais, Ana, André e Ivo (os coordenadores deste projecto) têm, no seu weblog, algo de original: a não inquietação de saberem que o seu trabalho é um exercício – quase um esforço, por vezes – para as suas futuras carreiras profissionais. Eles não pretendem fazer discursos que todos já conhecem. Não se lançam numa infindável repetição de notícias. Pretendem, antes, criar paralelismos para os acontecimentos. As visões do mundo destes três jovens são pessoais, não se importando com o rigor ou com críticas. Nisso reside a originalidade destes dois rapazes e desta rapariga.

Para o Ivo, para o André e para a Ana desejamos a melhor sorte deste mundo. Isto vale tanto para os discursos paralelos como para os seus futuros. Incentivamo-vos a continuarem com este projecto e a tornarem-no melhor.

Aos leitores do Ideias e Pensamentos, recomendamos o conhecimento deste weblog que não vos deixará de surpreender…

Discursos Paralelos

terça-feira, junho 03, 2003

Eis outro poema do João Firmino Alves. Eu, o administrador deste blog, não duvido de que ele será, em breve, um dos maiores poetas portugueses. Boa sorte Firmino.


Estou à espera, sentado no sofá,
Do futuro. Estou à espera,
De alguém que me venha ouvir...
Estou à espera que alguém me traga,
Notícias de guerras acabadas,
De povos unidos e felizes...

Estou à espera de alguém para amar,
Minhas angústias escutar,
Meu ser atormentado acalmar...
Estou à espera de ser alguém,
Dar algo ao Mundo para ele,
Secretamente me relembrar...

Estou sentado, quieto, no sofá,
A esperar por algo em que começo a duvidar.
Mesmo assim, continuarei sempre à espera,
Embora tardando imenso,
Do abraço fraternal entre mim e o Mundo,
Que apenas tu, e só tu, me podes trazer...

João Firmino Alves- 2001

Pessoa é sempre Pessoa. Ou seja, o maior escritor português de todos os tempos. Em mais uma homenagem, publicamos, para vocês pensarem, um texto do seu semi-heterónimo Bernardo Soares. Aí vai ele.

L. do D.

27-6-1930

A vida é para nós o que concebemos nela. Para o rústico cujo campo próprio lhe é tudo, esse campo é um império. Para o César cujo império lhe ainda é pouco, esse império é um campo. O pobre possui um império; o grande possui um campo. Na verdade, não possuímos mais que as nossas próprias sensações; nelas, pois, que não no que elas vêem, temos que fundamentar a realidade da nossa vida.

Tenho sonhado muito. Estou cansado de ter sonhado, porém não cansado de sonhar. De sonhar ninguém se cansa, porque sonhar é esquecer, e esquecer não pesa e é um sono sem sonhos em que estamos dispersos. Em sonhos consegui tudo. Também tenho despertado, mas que importa? Quantos Césares fui! E os gloriosos, que mesquinhos! César, salvo da morte pela generosidade de um pirata, manda crucificar esse pirata logo que, procurando-o bem, o consegue prender. Napoleão, fazendo seu testamento em Santa Helena, deixa um legado a um facínora que tentara assassinar a Wellington. Ó grandezas iguais às da alma vizinha vesga! Ó grandes homens da cozinheira de outro mundo! Quantos Césares fui, e, sonho todavia ser.

Quantos Césares fui, mas não dos reais. Fui verdadeiramente imperial enquanto sonhei, e por isso nunca fui nada. Os meus exércitos foram derrotados, mas a derrota foi fofa, e ninguém morreu. Não perdi bandeiras. Não sonhei até ao ponto do exército, onde elas aparecessem ao meu olhar em cujo sonho há esquina. Quantos Césares fui, aqui mesmo, na Rua dos Douradores. E os Césares que fui vivem ainda na minha imaginação; mas os Césares que foram estão mortos, e a Rua dos Douradores, isto é, a Realidade, não os pode conhecer.

Atiro com a caixa de fósforos, que está vazia, para o abismo que a rua é para além do parapeito da minha janela alta sem sacada. Ergo-me na cadeira e escuto. Nitidamente, como se significasse qualquer coisa, a caixa de fósforos vazia soa na rua que se me declara deserta. Não há mais som nenhum, salvo os da cidade inteira. Sim, os da cidade dum domingo inteiro – tantos, sem se entenderem, e todos certos.

Tão pouco, no mundo real, forma o suporte das melhores meditações. O ter chegado tarde para almoçar, o terem-se acabado os fósforos, o ter eu atirado, individualmente, a caixa para a rua, mal disposto por ter comido fora de horas, ser domingo a promessa aérea de um poente mau, o não ser ninguém no mundo, e toda a metafísica.

Mas quantos Césares fui!

Apresentamos, em primeira mão, um texto de Carlos Eduardo Oliveira que faz parte do seu livro sobre a cidade do Porto. É sobre a bonita igreja de Cedofeita, monumento românico que todos deviam visitar, pelo menos os que moram no Porto.

A pequena igreja de Cedofeita é a mais antiga da cidade do Porto. Sabe-se que é anterior à Sé, e se antes em seu lugar alguma igreja existira, nenhum documento o prova.
Cedofeita, segundo alguns historiadores, teria sido feita em pouco tempo, graças à rapidez das obras. Daí o seu nome. Mas para outros investigadores, Cedofeita significa feita recentemente.
Ao início, Cedofeita funcionou como uma simples ermida, talvez um local de descanso e dormida dos peregrinos que a Santiago de Compostela se dirigiam. Funcionava também como a igreja de uma pequena comunidade agrícola, nos arrabaldes do Porto.

A planta de Cedofeita é muito simples, quase pobre, estando de acordo com os fracos recursos monetários da época da sua construção. Esta planta, adoptada em tempos tão longínquos, continuou a servir de modelo para tanta outras igrejas que povoam Portugal: dois rectângulos justapõem-se, sendo o maior o corpo da igreja e o mais pequeno a capela-mor. Apesar da sua miséria estilística, Cedofeita é de uma notável elegância e um exemplar perfeito da arquitectura românica.

Portal da parede sul
No interior, a igreja está completamente abobadada, com a cobertura em pleno centro e contrafortes exteriores a anularem a pressão lateral sobre as paredes. Nos ângulos, sólidos gigantes reforçam a firmeza da construção, integrando-se na estrutura, constituídos por contrafortes muito bem concebidos, como se passassem despercebidos. São três na nave principal e um na capela-mor. Esta última é, como já referimos, rectangular e o seu arquitecto parece ter querido evitar o problema da junção de uma abóbada, usual nos edifícios românicos. Mesmo assim, conseguiu levantar este bonito edifício, dotado de um invulgar equilíbrio entre o peso da abóbada e a espessura das paredes.
Nas paredes laterais as cornijas repousam sobre pedras salientes, umas lisas e outras lavradas. Dois portais ogivados rasgam as paredes. Um no lado sul com quatro colunas de capitéis com aves e motivos flóreos (lavrados) e fornecido com ábacos. O portal da parede norte possuí duas arquivoltas e um tímpano, decorado com uma rosa ou rosácea. No centro desse círculo sobressai o cordeiro pascal. As quatros colunas que formalizam este portal, duas de cada lado, têm capiteis com formas decorativas lavradas, sem ábacos. O tímpano é sustido por dois modilhões lisos.

Inscrição no portal da fachada
Na fachada, deixa entrar luz para a nave uma janela de arco pleno. O portal da frente deste edifício, o maior dos três que existem, comporta três arquivoltas e capitéis esculpidos com quadrúpedes e aves (decoração zoomórfica). O tímpano comporta uma inscrição que os especialistas acham bastante duvidosa.
A luz penetra no interior da igreja por uma pequena rosácea quadrilobada, pela já referida janela da fachada e por quatro frestas, duas de cada lado.

Assim é a tão antiga igreja de Cedofeita. Igreja modesta, mas quase na unanimidade dos estudiosos, bela. Pode-se considerar este atributo devido à sua simplicidade, de não ter a mínima mistura de estilos. Esta pequena igreja é um grande orgulho para a cidade do Porto. Mas pouco faltou para que nós, nos nossos dias, não a tivéssemos, pois em 1753, o Prior de Cedofeita pensou mandá-la destruir para em seu lugar reedificar outra igreja mais grandiosa. Por falta de dinheiro, este terrível acontecimento não foi avante.

Carlos Eduardo Oliveira - 1999