quinta-feira, março 30, 2006

Notas circunstanciais...

1 - O tempo tem sido escasso. Antes, este parecia muito. Mal aproveitado era. Agora, sinto que este me foge por entre os dedos. Qual areia mais fina de praia perdida. tenho tanto que escrever. Tanto em que pensar. Os textos perdem-se na memória do meu cérebro. Sinto vontade mas o cansaço me invade. Todos os dias de manhã cedo o som angustiante do despertador me acorda para o mundo do trabalho.
Queria escrever um texto sobre os espaços da cidade. Do meu Porto perdido na memória (des)encantada da vida... Sobre as sensações de uma praça perdida algures na cidade granítica. Mas o tempo tem sido pouco para me aplicar numa prosa elaborada.
Queria escrever um outro texto sobre o problema da comunicação do ser humano. De como os Homens estão tão próximos uns dos outros e ao mesmo tempo tão distantes. Nunca estivemos tão próximos uns dos outros pelas tecnologias da informação. Porém, nunca os sentimentos foram tão difíceis de comunicar. Estou se calhar a ser repetitivo. Esta ideia, no entanto, é uma das minhas obsessões. O texto seria uma ficção real. Uma vivência que não tive mas que seria como se tivesse existido.
Queria escrever ainda uns textos sobre política. Mas até agora nada. A vida que eu levo faz-me pensar que sou uma espécie de estranho estrangeiro. Sou estranho para os outros. E, pior, para mim mesmo às vezes.
Estou a fazer-me de vítima? Não. Estes desabafos não devem assim ser interpretados.

2 - Duas músicas na memória. Uma antiga e outra nova. Começo pela nova. Mas antes uma breve introdução.
Massive Attack era uma banda que pouco me dizia. O nome "assustava-me". E algumas músicas não me agradavam. Por isso, raramente os ouvi. Até outro dia, em que a fazer zapping na TV me surge um videoclip de uma mulher alcoólica, que depois sai da casa e se perde numa grande cidade. Completamente cega, passe a expressão. pelo meio vê-se a sua queda - metáfora bem conseguida - pelas escadas abaixo. Mas o que me impressionou foi a música. De uma doçura angustiada, batida regular. Um pouco trágica. Não sei porquê, apreciei imenso a música. Era dos Massive Attack (e Terry Callier). Chama-se Live with me. I've been thinking about you baby... Uma canção de amor também... Vou, com atenção, ouvir outras músicas desta banda... A curiosidade é forte...
Com um simples solo de guitarra... Guitarra suave que viaja pela música toda. Autêntica intérprete de uma grande banda... Escrevo agora sobre a outra música... Stairway to heaven dos Led Zeppelin (Oooh it make me wonder). Música que vai em crescendo. Que encanta pela sua simplicidade, mas que empolga o ouvinte ao longo dos seus mais de oito minutos. Para quê escrever mais sobre música? jeito não tenho. E acredito que o essencial é ouvirmo-las. E por elas viajarmos. "A vida sem música não faria sentido" - Nietzsche.

3 - Os Gato Fedorento estão de volta. Não tive oportunidade de ver o primeiro episódio da série Lopes da Silva. Mas apanhei hoje, na SIC Radical, um episódio ainda da série meireles. Como eles são perfeitos a, pegando em detalhes, fazer humor com a banalidade da vida. Homens que começam as respostas todas por não, ou conversas sobre o tempo no elevador, acontecem quase todos os dias. Por vezes temos diálogos com outras pessoas dignas de gato fedorento. O humor não é ofensivo. Pelo contrário. Ao rirmo-nos com os gatos, estamo-nos a rir de nós próprios. Fantástico...

4 - As ideias e pensamento diluíram-se no cansaço. Antes podesse ficar aqui a escrever um cuidado texto. Sinto cada vez mais a necessidade da escrita. Será bom?

domingo, março 26, 2006

Algumas breves notas

1 - Como jornal de referência que é, o Público trouxe em destaque, na sexta-feira passada, o facto de Portugal ter sido ultrapassado pela República Checa em termos de PIB por habitante. O facto de outros meios de comunicação pouco terem referido esse dado revela uma velha mentalidade portuguesa: o fugir aos problemas. Portugal, mais uma vez, não consegue encarar de frente os seus problemas. Não consegue olhar-se ao espelho. Tudo aquilo que é mau é remetido para o subconsciente de um povo derrotado por forças estranhas. Talvez fantasmas de um Álcacer-Quibir, ou de uma ditadura demasiado longa no século XX que ainda assombram o imaginário colectivo. Curioso ensaio se podia escrever exclusivamente sobre o medo português. Agustina lança esses dados em O Mosteiro, romance em que um historiador, ao fazer uma biografia sobre D. Sebastião, acaba por conceber um ensaio sobre o medo. Já mais recentemente, José Gil abordou esse tema em Portugal Hoje, o medo de existir. E nesse ensaio tantos exemplos dá do receio de sermos. O caso das famílias que, após a morte dos entes queridos, deixam todas as coisas destes no lugar. Avessas à ideia de que partiram, continuam a olhar para as suas coisas como se ainda pudessem voltar. Têm medo de encarar a realidade da morte. Do fim. Esta mentalidade portuguesa envolve-nos e asfixia-nos.
Já o medo de existir não acontece em países do antigo bloco de leste. Agora, somos ultrapassados pelos checos. Amanhã será pelos polacos, depois pelos húngaros. E, quando um dia Portugal se descobrir na cauda da Europa, nos questionarmos pelo motivo do nosso atraso, não saberemos, mais uma vez, procurar a culpa em nós.
A notícia da queda económica de Portugal, por um lado prostrou-me. Por outro deixou-me feliz pelos checos. Admiro imenso os povos da ex-Europa de leste. Travaram guerras durante décadas. Tiveram lutas fractricidas. Foram invadidos constantemente, e em pleno século da modernidade, pelas ditaduras imergentes. Apesar de tantas desgraças, de verem as suas capitais serem arrasadas, de verem as crianças morrer de fome, acreditaram que se levantariam. E apesar de, ainda hoje muitos deles serem mais pobres que Portugal, basta passear durante uns poucos dias por essa Europa para perceber que nós, portugueses, vamos ser mesmo ultrapassados. Senti isso nos restaurantes de Praha. Admirei-me com o esforço dos habitantes de Cracóvia e Varsóvia para se tornarem modernos. Percebi que Budapeste será, um dia, um dos centros da Europa. Tudo porque eles não têm medo de encarar o futuro. Porque sabem ser europeus. Nós, aqui à beira-mar plantados, não temos espírito europeu. Outrora dominadores de povos, agora estamos numa encruzilhada. Até quando?
(Se um dia deixar de acreditar em Portugal, talvez regresse para leste... Sinto tantas vezes que tanto há a fazer por Portugal. Mas outras, o cansaço de ver tanta "gente rude e entristecida" é mais forte. Apetece-me ir para o centro da Europa outras culturas viver... )

2 - Num tempo em que o DN parava aos sábados aqui por casa, havia um comentador cujo estilo me indignava. Atacando provocatoriamente e sem papas na língua o que lhe apetecia, Vasco Pulido Valente, na sua coluna Faz de conta, incomodava-me. Apesar de tudo, reconhecia-lhe frontalidade. Porém, a partir de uma certa altura recusei-me a lê-lo. O seu estilo raivoso demais me parecia. Passaram-se alguns anos e Vasco Pulido Valente começou a escrever no Público, na última página. Ao princípio, pensei que era uma péssima aquisição, e desconfiado comecei a ler as últimas crónicas. Mas, aos poucos, como se Vasco P. Valente se transformasse, ou eu tivesse aberto os olhos, comecei a concordar com muitas das suas incisivas crónicas. A de ontem, sobre este problema de sermos ultrapassados no PIB per capita pela República Checa, não é excepção. Tal como compreendi, também, que Vasco Pulido Valente ataca todos sem se preocupar sobre quem é. E, quando elogia, é porque o elogiado fez algo mesmo importante.
Sinais dos tempos. É difícil argumentar contra Vasco Pulido Valente. Ontem passava à frente dos seus escritos. Hoje é das primeiras coisas que no Público busco.

3 - Manoel de Oliveira é, para mim, o maior realizador português. O facto de ter pouco público não impede esse facto. Os seus filmes não são para todos. Não realiza Crimes do Padre Amaro, cuja atracção principal é mostrar a nudez de Soraia Chaves. Pelo contrário, concebe obras que um dia figurarão para sempre na galeria dos melhores filmes europeus de sempre. Mas Oliveira é pouco respeitado. Principalmente pelo seu Porto natal, cidade que invariavelmente passa pela sua obra. Ora, acontece que o Porto, nenhum cinema está a exibir o seu novo filme, O Espelho Mágico. Em nenhuma sala de cinema entre o Douro e a Circunvalação, é possível ver esta nova obra do mestre dos realizadores. Os mais próximos locais da Invicta são o Norte e o Gaiashopping. E este último só a uma hora - às 19.10h. É assim que tratamos quem lá fora, nos festivais de cinema, nos dá nome.
Um dia, que esperemos longínquo, quando Oliveira falecer estou já a ver os poderes políticos e públicos, que raramente contactaram com a sua obra, a elogiá-lo grandemente. A aplaudirem-no quando morto, e a dizerem que sim, que de facto era o maior realizador português e uma honra para a nação. É sempre assim em Portugal. Só somos bons quando estamos quietos e não incomodamos.

4 - Recentemente escrevi sobre a Bertrand e a brilhante forma como se organiza. Acreditem ou não, a história que relatei não tinha acabado. Encontrava-me serenamente, na última sexta-feira ao fim da tarde, a ler partes do exemplar estragado da biografia de JFK na loja Bertrand de shopping, quando recebo um telefonema de número desconhecido. A conversa seguinte podia sair de um livro de Boris Vian. Boa tarde, é o senhor Duarte?... Sou!(nesta altura pousara o livro de novo na estante)... Fala da Bertrand... (fico em silêncio, pasmado...)... Era para dizer que o livro que encomendou em dezembro está esgotado... (ainda meio atordoado dirijo-me, a ouvir a empregada, ao balcão da recepção, e digo-lhe para olhar em frente...). Coincidências engraçadas...

segunda-feira, março 20, 2006

E o jornalismo não estaria melhor sem José Manuel Fernandes?

Disseram-me ontem que tinha aparecido na imprensa- julgo que o JN - uma comparação fantástica sobre o papel de José Manuel Fernandes no Público, jornal em que é director - é como se a Al Jazira fosse dirigida por George W. Bush. Nunca vi uma definição tão perfeita de JMF do Público. Em poucas palavras a sua mentalidade é demonstrada. Um jornal que garante liberdades e que pensa os acontecimentos, tem como director alguém que pensa o contrário.
Vem este post a propósito do artigo de opinião de JM Fernandes na edição de hoje do Público, que tem como destaque a situação no Iraque. Os artigos são claros - a Invasão fez-se de forma errada. Os mortos aumentam de dia para dia. Descobriu-se que a invasão do território pelos americanos, paladinos da liberdade, teve como argumentos factos inexistentes. Não haviam, nem nunca houveram, armas nucleares no Iraque. Dali nunca viria perigo para o Mundo. Situação contrária à de outros países - Coreia do Norte - que possuem armas nucleares e também têm regimes totalitários. (Mas uma guerra na Coreia não é viável por duas razões -não têm petróleo e as armas nucleares podem ser usadas).
Um facto não ponho em causa do que diz José Manuel Fernandes - a de que o Iraque era uma ditadura e que Saddam era um carniceiro. O problema, no entanto, é que não se depõe ditadores do modo como os Aliados, liderados pelos EUA, fizeram. A humilhação de invadir um povo, de cortar as barbas a Saddam - elemento masculino tao importante para a cultura árabe - é o não respeitar os adversários por pior que eles sejam. Começa JMF por mostrar, no seu artigo de opinião, os erros da invasão iraquina. Mas sempre culpando os erros ao Iraque, o que é genial. Nem Bush faz melhor. Invadiu-se por causa das armas nucleares? Mas essas nunca existiram. Já isso dava a entender Hans Blix, chefe das Inspecções no Iraque sob a égide da ONU. É bom não esquecer que a ONU não aceitou a invasão, e que os EUA várias vezes dificultaram os trabalhos da Inspecção.
Mas a grande pérola do texto de JMF vem no segundo parágrafo. Quando escreve sobre a vergonha de Abu Ghraib, local onde o princípio universal da dignidade humana foi, literalmente, espezinhado. Mas não é a vergonha de Abu Ghraib que JMF pretende atacar. Ataca a liberdade de expressão! Não queria acreditar no que lia... Passo a citar - "... o facto de esses acontecimentos terem sido revelados, denunciados e julgados por vivermos em democracias onde a imprensa é livre (ninguém sabe o que se passava em Abu Ghraib no tempo de Saddam, e sobretudo não existem imagens desses tempos para passarem na Al-Jazira), fez um mal terrível à luta anti-terrorista." Brilhante! A culpa é dos iraquianos, da comunicação social. Só não é dos Estados Unidos porque esses são santos. Em seguida JMF afirma que Abu Ghraib foi uma excepção! Terá sido mesmo o único local onde os direitos humanos foram desrespeitados? Não me acredito nisso. Abu Ghraib existiu porque alguém deu com a língua nos dentes. Mais vergonhas se passaram com certeza.

Não me apetece escrever mais sobre o director do meu jornal português preferido. A paciência esgotou-se. Tenho que escrever sobre outras coisas... Que espero nunca desçam ao nível da prosa americanizada de JMF. Se Bush o ler, certamente o contratará para Assessor...

PS - O título do texto é inspirado nas últimas linhas do artigo de JMF...

domingo, março 19, 2006

O directo ou o vazio televisivo

Porque se faz um directo na Televisão? A resposta académica, dada nos cursos de comunicação, é que o directo é utilizado para demonstrar que a televisão não mente. Ela está ali, no terreno, a cobrir os acontecimentos. O jornalista está no sítio onde nós não podemos estar fisicamente. Seja esse local o virar da esquina de casa, ou o outro lado do mundo. O directo, dizem os entendidos, é uma forma de credibilizar o jornalismo televisivo. Mais, é a forma que a televisão encontrou para ser possível noticiar o que está a acontecer no momento. Um congresso de um partido. Uma entrevista urgente. Mas estes acontecimentos são relevantes para uma determinada Informação. Naquele momento os telespectadores, imaginam os jornalistas, querem saber o que se está a passar...
Ora, o problema é que o directo, no novo contexto da televisão comercial, se banalizou. Faz-se directo do mais irrisório acontecimento - um almoço feminino no dia internacional da mulher; ir para as ruas perguntar à população o que pensa sobre determinado assunto; saber as reacções populares no fim de um jogo de futebol, etc. Onde está a notícia aqui? Em nenhuma parte. A televisão precisa de encher um telejornal "normal" de pseudo-acontecimentos. E, como destruir a ideia de pseudo? Fazendo um directo. Ao vê-lo, o telespectador pensa que o "acontecimento" é importante. Está lá um jornalista. Está a acontecer - pensa. Porém, quantas vezes não é a própria televisão que encena o momento.
Certos países da Europa - aqueles que fazem o povo português sentir-se inferior - têm telejornais curtos. Meia hora no máximo. E transmitem toda uma panóplia de notícias: política, sociedade, economia, desporto, etc. Em Portugal os telejornais chegam a durar mais de hora e meia. E, como encher um telejornal? Muitas vezes com directos e "casos da vida". São cadeias de televisão que transformaram a informação em telelixo. Quase nada mostram de interesse. E, o que interessa, é realizado com o espírito de quem faz a nulidade que invade a grelha do telejornal.
Isto tem consequências, que a médio prazo podem ser graves. Decorre, desde há alguns anos, a discussão sobre o descrédito dos agentes políticos. As pessoas estereotipizam-nos. Julgam que todos são aldrabões. Que apenas lhes interessa o tacho. É verdade que há maus políticos. Mas aqueles que parecem não prestar - exemplo óbvio: Fátima Felgueiras - são criações da comunicação social. Fugitivos à justiça transformam-se em heróis. São eles que vendem a notícia, que criam o famoso "jornalismo de mangas arregaçadas". Que espaço há, então, para os bons políticos? E, já agora, para o bom jornalismo?
Questionado se via o telejornal da sua cadeia de televisão, Paes do Amaral, ex-dono da TVI, respondeu que aquele tipo de telejornal não era para ele. Preferia um estilo CNN. Mas, respondia ainda ele sobre o tipo de telejornal transmitido pela TVI, o papel dos media não é o de educar o povo... Um dia, talvez estas palavras sejam recordadas como o exemplo do pensamento económico televisivo português
Assim, é com telejornais recheados de directos de não-acontecimentos, que o telejornalismo se banaliza. Que a qualidade da informação decresce. Que o vazio televisivo se adensa. Excepções ainda as há: SIC Notícias. Faz só directos de acontecimentos. Mas será por conceber ainda um jornalismo credível, ou apenas porque sendo um canal de cabo com pequena audiência não suporta o custo dos tempos de satélite. A dúvida continuará a pairar.

sexta-feira, março 17, 2006

Nem revolucionários, nem oportunistas. Apenas inconformados.

Porque se revoltam os estudantes em França? Devido a uma lei de emprego absurda (contrato do primeiro emprego), que os trata como carne para canhão de empresas ávidas de lucro e despreocupadas pelo bem dos seus trabalhadores. Cada vez mais a economia dos países da UE se radicaliza. Se torna injusto. A economia francesa começa a falhar pois foi esta que criou a base da Segurança Social. Assim, como primeira a lançar as bases da justiça económica social, também é a primeira a ser vítima do falhanço desta. E, usemos estes termos ciemtíficos, a primeira a "experimentar" as alterações à ordem.
Revoltam-se os estudantes em França porque, com uma estúpida lei, se sentem proletarizados pelo sistema económico. Deixam de ter direitos, e o emprego passa a ser um privilégio. Um pouco por toda a parte isso acontece. Mas a juventude francesa é, normalmente, inconformista. Não aceitam como rebanhos as alterações aos seus direitos. E, desse modo, saem à rua e fecham as Universidades. E, na memória do mundo, espera-se de novo um Maio de 68.

continua...

quarta-feira, março 15, 2006

Regresso ao começo do mundo

Jeff McCloud está cansado. A sua vida fôra composta de adrenalina. Exigência da profissão que escolhera - homem de rodeos. Montando touros bravos, Jeff encontrara o modo de ter os seus luxos. De viver fácil. Autêntico lusty man. Mas agora, em mais um rodeo, os seus olhos não são os mesmos. Uma certa desistência parece amolecer o seu corpo... O rodeo começa. Jeff não aguenta muito tempo em cima do touro bravo. Fica estendido no chão. A multidão, habituada a ver nele um campeão, espanta-se e assobia-o. Passa-se algum tempo. Jeff sai do balneário. Atravessa a pista do rodeo solitariamente. Coxeia. Nas bancadas ninguém já se encontra. Toda a sua presença ali é como se se anulasse. Jeff sabe que o seu tempo como homem de rodeos acabou. Mas a sua vida é um vazio. Assim, para onde ir.

Esta é a primeira cena daquela que é para mim uma das obras-primas do cinema. The lusty men (1952), realizado por Nicholas Ray, é daqueles filmes simples que muito dizem. E que na nossa memória continuam a ser admirados. As duas primeiras cenas do filme perseguem-me muitas vezes. A primeira é a apresentada no primeiro parágrafo deste texto. A segunda é, para mim, das mais brilhantes cenas de Cinema alguma vez concebidas. Só mesmo possível devido ao génio demoníaco de Nick Ray. Autor de outras obras esplendorosas da sétima arte como Rebel without a cause - Jimmy Dean no seu melhor - ou Bigger than life.

Jeff McCloud sai do camião que lhe dera boleia. O seu aspecto continua o mesmo. Cansado. Olha para todos os lados. Não com o olhar de quem tenta perceber onde está. Antes com olhos e que tentam reconhecer um sítio há tanto tempo perdido. No ermo onde Jeff se encontra há também uma casa. Levemente sorri ao olhá-la. A casa é velha. Parece não ser utilizada à bastante tempo. Jeff aproxima-se da porta. Tenta abri-la. Mas esta não cede. Para além da sua força física, outra força misteriosa parece impedir a passagem àquele lar. Jeff desiste. Prefere contornar a casa. Chega às traseiras onde não há nenhuma porta. Mas não é isso que ele procura. Outra coisa o leva lá. De repente, baixa-se, e agilmente esgueira-se pelas fundações da casa. Já debaixo das tábuas podres, e com a ajuda dos cotovelos, chega a um ponto onde, escondidos numa reentrância da madeira, encontra os seus objectos de infância. Um livro de folhas gastas pelo tempo. E uma pequena pistola de brincar já ferrugenta. Jeff sorri comovidamente. Regressou a casa. Ao ponto de partida. O começo do mundo, onde um trilho começou. O regresso no entanto, vem revelar o falhanço desse trilho. E o desejo extraordinário de uma alma só, que, apesar do dinheiro e da fama, nada teve. Pudesse ele regressar à infância e trilhar outro caminho. Mas isso é impossível. Nada resta agora senão a amargura do falhanço que lhe queima o coração.

Tenho-me preocupado, como podem ler noutros posts, com a ideia do eterno retorno (ou senão com ela com algo parecido). Milan Kundera interpreta o eterno retorno como o desejo do Homem em poder repetir a sua vida infinitamente, mas de cada vez com o conhecimento que adquiriu nas vidas anteriores. É algo impossível. Claro. Por isso o Homem vive no limbo de uma realidade que ele constrói em parte, mas que a acção dos outros também condiciona. Somos actores de uma peça de teatro. Mas que não tem ensaio nem repetição. Por isso cada gesto em vão não pode ser repetido. Cada vez que nos arrependemos de algo não podemos reparar totalmente. Porque a "reparação" é sempre condicionada pela memória do falhanço da vez anterior. Que podemos então fazer? Pouco. Viver. Apenas viver. De cada vez que falhamos, e nos tornamos um Jeff McCloud em potência, podemos sempre ir até ao sítio onde tudo começou - nem que seja no interior da mente - mas jamais podemos recomeçar de maneira pura. Podemos reparar ao máximo onde erramos. Mas o tempo deixa marcas. As sequelas destas perseguir-nos-ão.
Podemos apenas fazer uma coisa. Que não muda o nosso falhanço, mas que nos ajuda a dar algum sentido á vida. É ensinar um nosso próximo a não errar. Jeff irá isso fazer. Já que a vida dele falhou, ao menos que a sua experiência sirva para outro não errar. Nem que esse gesto lhe custe a morte, ele sabe que assim poderá dar sentido à sua existência. Mas adiantei-me na interpretação do filme. Saltei até à última cena. Mais havia para dizer. Mas se calhar percorreria outras ideias que hoje não me apetece abordar.

Para além da soberba realização de Nick Ray, o filme conta com Robert Mitchum numa interpretação magistral (é ele Jeff McCloud) - só escrevo sobre ele, mas podia perder-me a falar das qulaidades de outros actores. Um filme a rever. Sempre...
The Lusty Men

segunda-feira, março 13, 2006

Pensamentos avulsos

O tempo tem escasseado. O trabalho tem sido bastante. Quando chego a casa não tenho a paciência suficiente para escrever. Várias vezes, em trânsito na rua, nos transportes públicos ou mesmo a adormecer, lembro-me que devia escrever mais vezes. Sobre coisas que penso ou não só. Porém, o vagar tem sido pouco. Apetece-me antes ler. Umas coisas leves - um romance do Raymond Chandler - ou pesadas - a biografia do Mao Tsé-Tung, monstro infernal do séc. XX.
Ora, hoje talvez porque amadureci ideias, ou porque uma paciência inexplicável me invadiu para me sentar em frente ao monitor, decidi escrever umas linhas desconexas. Sobre coisas avulsas. "Casos do dia". Preocupações que o espírito me assaltam. Etc. Talvez seja esse o futuro deste blog. Por isso, o que se segue são apenas notas avulsas. Pensamento "puro", no sentido em que não é trabalhado: nem literariamente, nem pacientemente revisto. Se calhar até vou mostrar mais o meu lado político...

1 - Sempre me meteu impressão, apesar de compreender que vivemos num espaço económico europeu livre, que as ecoomias de outros países nos invadissem. A Zara, por exemplo, tem uma implementação de sucesso no espaço português. De tal modo que numa mesma rua do Porto, Sta. Catarina, existem duas dessas lojas, e as duas não se anulam. Também a francesa FNAC nos invadiu, criando nos shoppings e nos centros das principais cidades autênticos supermercados de cultura. Locais onde a qauntidade é privilegiada. Preços por vezes imbatíveis trouxeram. Entre outros exemplos.
Agora, a última dor de cabeça do comércio português é a abertura nos próximos meses do El Corte Inglés, na outra margem. Mas porque razão eles nos venceram. Primeiro, porque são mais fortes economicamente. E, segundo e principalmente, porque são melhores. Laxismo é, para estas novos indústrias de consumo, palavra proibida. E mesmo aquelas lojas portuguesas que lhes tentam seguir o passo perdem... e fazem o cliente perder a paciência.
Dou um exemplo que se passou comigo e com as lojas Bertrand. Em finais de Dezembro pedi, numa livraria de shopping, um livro da Taschen. Eles disseram que o mandariam vir de uma loja de Coimbra, e que chegaria no início do ano novo. Disse-lhes, claramente, que se encontrasse o livro noutra livraria não levantaria a encomenda. Eles, como grande loja que são, tentam ter a ombridade mal disfarçada de satisfazer o cliente. Responderam-me que não havia problema.
Passado dois dias encontrei o livro, na agora renovada Livraria Britânica. Algum tempo depois avisei a loja que já não precisava do livro, que não precisavam de mo encomendar, devido talvez a um fundo de honestidade que talvez possua. Agradeceram com ar de frete o ter avisado.
Passaram-se mais de dois meses. E já neste março que agora está a florir recebo um telefonema, ia eu no Metro. Era da loja Bertrand. Uma voz toda amigável avisava-me, como se estivesse a dar-me a melhor notícia do mundo, que o livro que encomendara em dezembro acabara de chegar. O livro que já tinha. Que vinha de Coimbra. O pedido a que se esqueceram de dar baixa.
Mas as "aventuras" com esta empresa portuguesa, que pretende competir com as empresas culturais estrangeiras, não se ficam por aqui. A Bertrand também é editora. Desde sempre, e com autores de qualidade. Foi esta casa livreira que editou a obra de Aquilino Ribeiro. Que publicou, num tempo em que trevas da censura cegavam o país, livros como "Quando os lobos uivam". Ora, eu pretendia adquirir um livro da editora bertrand, que deve estar melhor representada nas livrarias... Bertrand. Da mesma colecção do livro do Mao Tsé-Tung que referi atrás. Também uma biografia. Mas desta vez de um democrata: Kennedy: uma vida inacabada, de Robert Dallek. Um texto que todas as críticas consideraram como a melhor biografia até agora escrita sobre o trágico presidente americano. Fui à mesma loja Bertrand de shopping. Tinham um exemplar, completamente estragado. E eu, que trato os livros como objectos sagrados (talvez como na infância ainda busque neles um amigo...) recusei-me a comprá-lo. Perguntei se não tinham outro exemplar. Primeiro, perguntaram-me qual era a editora! Depois, disseram não podiam pedir mais exemplares unquanto não vendessem aquele, o que julgo ser impossível visto que nem mesmo o mais cego leitor compraria um livro daqueles no estado em que estava. Deram-me a hipótese de encomendar um exemplar. Porém, não arrisco a que chegue outro em mau estado. Recusei.
Neste fim-de-semana voltei a procurar o livro na Bertrand de outro shopping, agora na outra margem desse rio que une duas cidades quase gémeas. Mais uma vez, os empregados não sabiam que a editora que publicava o livro era a mesma que lhes pagava o salário. O livro não está esgotado. Mas como não se vende ocupa espaço. Espço necessário para novos pretensos best-sellers de literatura light.

Infelizmente, o caso da Bertrand é um entre milhares nas empresas portuguesas. Entidades que não compreendem porque as Fnac e os El Corte Inglés as ultrapassam. As empresas estrangeiras têm uma cultura de trabalho. Formam os empregados de base. Neste momento, centenas de trabalhadores estão a ser ultimados para a abertura do El Corte Inglés Portogaia... perdão, por enquanto só Gaia (um dia, quem sabe, Portogaia deixará de ser sonho...). Ensinam-lhes a cultura da empresa. Obrigam-nos a saber o que cada secção tem. Transmitem-lhe uma cultura de trabalho. Um dia, em que as empresas portuguesas isso façam, Portugal pode-se bater com as Fnac's e outras entidades estrangeiras. Mas por enquanto, os portugueses preferem pagar qualidade no atendimento. Respostas rápidas aos seus pedidos. E é por isso que somos batidos pelos outros. Porque não sabemos vender o nosso produto. Qual trolhas ao lado de doutores a vender algo.

2 - O Manuel é um rapaz como tantos outros. Não tem curso superior. Mas tem uma especialização técnica que equivale ao 12º ano. Foi para esse curso técnico um pouco contrariado. No entanto, acabou por gostar. Lá ganhou amigos, e acabou por gostar das matérias. Acabou o ano com um estágio na sua área. E, passado algum tempo, arranjou emprego numa área parecida. Dois anos se passaram com o Manuel a ganhar mal e a fazer sacrifícios pela empresa que o contratou. Andar de noite pelos distritos à volta do Porto a fazer medições de ruído, por vezes doente. E tantas vezes a pôr as despesas do seu bolso. No fim do contrato, preferiram não lho renovar. Melhor empregar por dois anos outro "escravo" do que efectivar um.
O Manuel passou a correr ao posto de emprego. Há pouco mais de um mês esse pasquim sensacionalista chamado 24 Horas apanhou-o à saída e entrevistou-o. Hoje, dia 13, ali está ele com aquele sorriso de criança, que conheço desde sempre, nas páginas do jornal, a contar os seus males. E como ele há milhares de jovens por esse país fora. Milhares que viram algo de bom passar-lhes ao lado: um emprego seguro. Algo que cada vez menos é um direito, e passou a ser um privilégio.

3 - Uma frase que em deu que pensar - Não há liberdade sem lei. Uma verdade tão simples. Mas de que, por causa disso, raramente nos apercebemos. A lei e mais qualquer coisa é a base do Homem. Há lei para controlar o Homem por várias razões. Mas a principal é a de o auto-controlar. O de o fazer ser sociável, e não pisar esse valor ténue e universal que é a liberdade. Uma frase que vem na Antiga Bíblia. Sempre presente na história do ser humano.

4 - Mais uma nota? Sim, queria escrever uma nota longa sobre esse fenómeno do universo da comunicação social. É grave quando os media televisivos se alongam com desgraças. É grave quando um telejornal se transforma numa telenovela. É grave fazer um telejornal de não notícias. É grave quando o JN, jornal que admiro pela sua história e por uns resquícios de qualidade cada vez mais invisíveis, se transforma quase num foto-jornal. É grave ver uma redacção mecanizada em casos de dia. É grave os jornais dizerem que não têm leitores mas não os sabem educar. É grave o jornalismo em Portugal. Reafirmo. Não tenho espírito de coveiro. Agora percebam aqueles que podem perceber. E questionem aqueles que não sabem.

5 - Escrevi atrás sobre o Manuel e o seu curso tecnológico. Eu também estou a tirar um. Mas dizem que é curso superior. Enganei-me ou enganaram-me. Já não busco culpas. Pudesse eu repetir o que está para trás e talvez fosse feliz. Mas a vida é, como explica Kundera, uma peça de teatro sem repetição e sem ensaio. É a sua ideia de eterno retorno...
Resta-me o consolo de uns rostos perdidos entre as paredes de uma sala vazia. De umas vozes amigas que me acompanharão, assim o espero, no resto desta aventura errática chamada vida. E dos belos pôr-do-sol vistos da janela do estreito corredor do segundo andar...

sexta-feira, março 03, 2006

Hamlet

Hamlet é um dos mais famosos personagens de teatro, fruto da visão genial de Shakespeare. A grandeza desta personagem é a de qualquer pessoa poder criar, enquanto convive com Hamlet na leitura da peça homónima, uma imagem própria do personagem. Uma espécie de encontro com o Hamlet que pretendemos. Não é uma personagem plana. Pelo contrário. O princípe da Dinamarca é de tal modo elaborado pelo seu criador, que cada leitor o pode interpretar do modo que melhor entender. Mesmo na transposição da peça para o palco, a personagem já contou com diversas interpretações. Desde as mais clássicas, que apresentam um Hamlet "filosófico" e determinado, até àquelas que mostram um Hamlet indeciso, angustiado e perdido nas suas orientações sexuais.
Desse modo, Hamlet é uma espécie de personagem todos-nós. Ele carrega em si as perguntas da Humanidade, e a ambiguidade do ser que quer agir - no seu caso vingar o pai - sem saber como. mas estas linhas que escrevo, tenho que ressalvar, são a minha interpretação de Hamlet. Do meu Hamlet. Por vezes cruzo-me, na memória, com ele. Com certas passagens do texto shakesperiano. E aquela que mais me fascina é quando Hamlet fala com o fantasma do seu pai. Quando este lhe diz que foi assassinado pelo irmão, tio de Hamlet. Acto sangrento para usurpar o trono e casar-se com a mãe do personagem. Durante esse diálogo, o princípe raramente fala. Apenas umas breves exclamações de horror lhe saem da boca. Ao contrário das outras partes em que entra na peça, em que é a voz principal. Aquela que mais alto quer falar. Mas aqui, nesta passagem, em que ficamos a saber dos tristes fados do defunto rei da Dinamarca, Hamlet ouve o pai. E, a grandeza do momento, é o modo como nós podemos imaginar a expressão de Hamlet. Eu imagino-a horrorizada. Rosto lívido com olhos arregalados. Mas sem o corpo tremer. Por um lado o horror. Por outro a angústia do não saber o que fazer - vingança, mas quer mesmo vingança? - perante o está a saber. Porque Hamlet é um personagem também passivo. O seu "ser ou não ser" é a expressão máxima dos mundos ambíguos que habitam a alma de Hamlet. A grandeza do personagem nasce, assim, do seu desdobramento. E por isso eu imagino as suas atitudes, e sua linguagem corporal, também de forma ambígua. Ele é o personagem que diz o que não sente e faz o que não quer. A contradição entre desejo e atitude. O Homem que afirma a obscuridade e questiona-se sobre a evidência?
Quantos Hamlets terá o mundo...?

quinta-feira, março 02, 2006

As palavras que não sabemos dizer

Que poder existe em certas palavras que o coração nos abalam? Talvez o lado fonético, que as torna forte. Talvez o modo como elas são interpretadas pelos receptores, que devido à experiência de vida as interpretam como querem... ou como podem. Verdadeiramente, o que é uma palavra? Um simples som pronunciado numa língua qualquer. Um termo simples ou complexo. Normal ou técnico.

Mas as palavras são muito mais do que isso. Elas são uma pura expressão do género humano. Do homo communicantis, uma espécie de novo género humano que surge com este advento que se vive da informação ao segundo. Muitas palavras deixaram de ter sentido. Algumas, até ontem puros tabus, vulgarizaram-se nas bocas mais incapazes de as pronunciarem. Outras esquecidas foram pelos tempos subterrâneos que percorrem a vida humana.

Porém, as palavras não se esgotaram. Pelo contrário. O Homem vive intensamente em busca da palavra. Daquela que esmagará todas as outras e, como um cristal, revelará a verdade do mundo. Sonho utópico? Sem dúvida. Mas o que é a Humanidade mais do que uma expressão de um devir-sonho? As palavras são, também, o Graal dos escritores. A busca da sua máxima expressão. Porque estes são como campos semeados. São terra cultivada, que depois de várias monções e secas deixam brotar o seu fruto. Porém, alguns são podres. Outros são de uma beleza rara e nova, com um sabor nunca antes experimentado. Esses frutos são palavras. E o sonho de qualquer escritor é encontrar a última das palavras. Aquela que abrirá o mundo a todos os conhecimentos. A todos os saberes. Uma luta sofredora...:

A vida inteira para dizer uma palavra!
Felizes a que chegam a dizer uma palavra!

Saul Dias

Este poeta e pintor, irmão de José Régio (um dos mais injustamente esquecidos poetas lusos) é citado em epígrafe por Vergílio ferreira, no seu romance Para sempre. Para sempre é uma espécie de continuação de Aparição. mas com outro personagem – Paulo - , que devido à velhice e viuvez regressa à casa onde nasceu. Para esperar pelo fim inevitável. Pela morte. Para sempre. Mas mal entra em casa, numa tarde de Agosto, é assaltado pelas memórias. Da infância. Da mulher que partiu há frente dele (impressionante o modo como é narrado, sempre na primeira pessoa, a morte de Sandra). Da filha que não vê há muito tempo. Dos desgostos dos amores. E, de toda a experiência de vida, que agora chega ao fim, que palavra nomear para descrever toda a sua existência? Este é um dos motores do romance de Vergílio Ferreira. A busca da palavra, que no final do romance se compreende que jamais se poderá alacançar. Porque essa palavra não é nossa. «É a palavra que conhece o mistério e que o mistério conhece – não é tua. De ti é apenas o silêncio sem mais e o eco de uma música em que ele se reabsorva» (última página do romance).

A busca da palavra é infrutífera. Mesmo assim, prefiro continuar a tentar semear em mim o fruto dela. Suportando as tempestades e as secas. Os ventos e o sol. dizem que sou idealista. Assumo que sou. Mas por vezes, o que é o idealismo? Uma espécie de grau elevado do pragmatismo.