segunda-feira, outubro 27, 2003

Na vida ando a afundar-me
E para a ela escapar mergulho no mais profundo dos mares: a realidade.
Mas nele também me afundo, e desta vez no lodo.
Mais vale esquecer e sonhar…

João Firmino Alves

domingo, outubro 26, 2003

Estamos em crise e estão todos deliciados - Solaris Planet

No actual panorama nacional e mundial em que nos encontrámos, existe uma grave crise. Crise de valores, de ideias, de oposição aos direitos e deveres estabelecidos. Por nada se luta. O ser humano deixa-se arrastar numa torrente em que julga ter tudo, que tudo pode controlar, mas que leva a parte nenhuma. A uma alienação da alienação.

Vivemos num tempo de crise profunda e ninguém se apercebe. Por todo o lado, emprego, ruas, meios de comunicação, tudo está bem. Mesmo que esteja mal (processos «Casa Pia», maus-tratos a menores, quedas de pontes, etc.) tudo apela a um consumismo reinante. A uma serenidade egoísta. A um capitalismo cínico que não se interessa pela vida de ninguém.
De facto, estamos num tempo em que os valores não são aprendidos nem apreendidos, mas ditados. Ditados pelos media, pelas relações pessoais, etc. Num tempo em que ter um par de calças de marca ou o carro desta ou daquela marca é melhor que ter uma ideia, um valor. De tudo isto, as relações humanas entraram em declínio. Raros são agora os sentimentos de entreajuda. De amar o próximo. Como afirmou Saramago quando recebeu o Prémio Nobel, «chega-se mais rapidamente a Marte que ao nosso semelhante». Infelizmente é verdade. O Homem olha para o Mundo e para os seus pares em função de si. Não o contrário. Nós em função do Mundo. Parte integrante de uma globalidade. Assim, valores pessoais, muitos deles transmitidos pela Igreja, estão mortos. Ninguém sabe o que quer. Vive-se para o nada. Para esquecer a nossa condição. De mortais que carregam o peso imenso da Humanidade e que dele não se conseguem livrar.
O futuro é cinzento. Caminha-se no meio de festas e competições para a degradação. As artes estão esquecidas. Ninguém lê. E mesmo que leia, muitos não sabem ler. Nem olhar para um quadro (olhar e estar atento é tão importante). Continuamos cada vez mais «escravos cardíacos das estrelas», caminhando numa estrada que cheira a putrefacção. Traímos revoluções. Cuspimos na glória de nossos pais e avós.
E assim vamos – quase todos – felizes sem nos apercebermos que existe um Planeta Solaris aquém e além de nós ao mesmo tempo. E que no Mundo somos uma parte infinitesimal. Não o contrário…

Duarte SD

sexta-feira, outubro 17, 2003

Um Papa para a eternidade

Fez ontem 25 anos que Karol Woytila, um Cardeal polaco, subiu ao topo da Hierarquia do catolicismo. Em vinte e cinco anos, o Papa fez mais do que muitos apostariam quando da sua nomeação.

João Paulo II - «não tenham medo... fui chamado de longínquas terras para ser vosso bispo» - é um Homem para a eternidade. O seu perfil fá-lo entrar, até ao fim dos tempos, para a «prateleira» dos Homens Bons da História da Humanidade. E merece-o. Raramente se encontra no mundo alguém tão Humano, tão puro. Alguém que acredita no bem, que quer o melhor para o mundo inteiro.
O Santo Padre não é só um Homem da Igreja Católica. É um homem do mundo que procurou levar a todos (101 viagens, fora as que se realizaram em Itália) conforto. É um homem que persiste, que acredita nas coisas para além da sua força física. de louvar a sua fé, a força que esta tem. Momentos que definem o perfil de um homem são, por exemplo, quando João Paulo II recebeu, nessa altura bastante debilitado, a reunião ecuménica portuguesa no Vaticano. No fim, quando se realizaram as despedidas, os cardeais e bispos despediram-se dele com um até sempre. Ele apenas disse: «Até Fátima». E no ano seguinte cá estava em Portugal, pela terceira vez, numa prova de tremenda fé, de acreditar que para além do corpo existe uma alma com uma força própria.
Nunca a Humanidade poderá esquecer que o Papa recebeu ou visitou tudo e todos. Recebeu e visitou Fidel Castro, Gorbatchev, Lech Walesa, Ronald Reagan (entre outros presidentes), etc. Foi a países com minorias católicas. E, além de tudo, foi o Papa do perdão. Soube usar o perdão, prova da sua infinita bondade. Pois perdoar deve ser das coisas mais belas que existem no Mundo. Perdoou o seu «quase assassíno», perdoou os que o atacaram politica ou humanamente. E, ainda mais forte que perdoar, pediu perdão à humanidade pelos crimes da Igreja, pelo silêncio do Vaticano no respeitante às vítimas do Holocausto, pela condenação de Galileu no Santo Ofício, etc. Ele sabe o imenso fardo que traz consigo em ser a figura máxima da Igreja. Tem consciência dos erros da Igreja, sabe o mal que esta fez. E parece estar a sua doutrina tão longe (aparentada do divino) e ao mesmo tempo tão perto (tão rente aos Homens).
E agora, que se passam 25 anos da eleição do Papa, estão a matá-lo. A comunicação social interroga-se sobre o próximo Papa. As pessoas especulam quanto mais tempo de vida tem sua santidade. e esquecem tudo o que ele fez e ainda faz. Não merecem que exista uma pessoa assim, esses que já falam dele no passado. O PAPA ESTÁ VIVO! O corpo pode estar a morrer. mas o espírito está impecável. Querer enterrar João Paulo II antecipadamente é uma prova de imensa crueldade. De esquecimento colectivo.
Por isso, só temos que desejar a sua Santidade a continuação de bons anos. E um profundo obrgado por ser quem é.

Duarte SD

quarta-feira, outubro 08, 2003

É um herói português, concerteza

Paulo Pedroso está em Liberdade. Quatro meses e meio depois de estar detido no «Limoeiro» o deputado socialista saiu da prisão directamente… para a Assembleia da República, onde foi recebido pelos camaradas de partido como um herói.

Algo de podre se passa em Portugal. No meio de um escândalo original e grave ao qual a sociedade Democrática portuguesa nunca assistiu, criam-se heróis e fala-se demais. Paulo Pedroso declara-se inocente. Tem todo o direito de o afirmar perante os media. Porém, ele ainda é arguido de um processo que ainda está em averiguações. Não é culpado, como é evidente, mas é suspeito de culpa. Por isso, a sua atitude em ir para o Parlamento, a «casa» onde funciona o país político, estando à espera dele o Partido Socialista em festa que o recebe como filho pródigo, foi errada na nossa opinião. Além disso, ir para o Parlamento quatro meses e meio depois de estar preso? Ser a primeira coisa que faz? Algo está errado. Imaginemos, por hipótese, que Pedroso é culpado. Que em julgamento fica provado, sem margem para dúvidas, que ele abusou sexualmente de crianças. Nesse momento o PS sofreria um cataclismo. Ferro Rodrigues seria obrigado a demitir-se. Figuras históricas como Manuel Alegre, que hoje afirmou que a libertação de Pedroso «representa uma vitória do estado de Direito». Estado de direito. Uma ideia com um significado tão forte, com uma conotação de justiça para todos, é usada como uma espécie de tapete que todos utilizam. Onde está o estado de direito para aqueles que, numa instituição do Estado, foram violados e ficaram no silêncio do medo? Se Manuel Alegre estiver errado, se Pedroso for culpado, é o fim da sua carreira, como o será para todos os actuais dirigentes do PS. Aliás, tudo nos pareceu hoje uma espécie de «encenação». Os abraços, a chegada à Assembleia com o líder do PS à porta. A ovação. Tudo a pressionar os media e os juízes que julgarão o caso para a inocência do «delfim» de Ferro Rodrigues. Se têm tanta confiança na justiça – «hoje a justiça deu um passo importante e eu continuo a acreditar na justiça» (Paulo Pedroso) – deixem-na seguir o seu caminho. De contrário, até parece que Têm dela medo.
Ora, podem também não ter medo dela. Podem é querer ajudá-la. Aliás, façamos o exercício de imaginação contrária: o que acontecerá se a Justiça estiver errada? Se muitos daqueles que estão presos são mesmo inocentes (até agora são sempre inocentes, pois até provas concretas mostradas em julgamento são todos inocentes) o que será da justiça. Perderá toda a sua credibilidade. Durante anos e anos a impunidade voltará a reinar. Assim, podemos afirmar que o «processo Casa Pia» é uma faca de dois gumes. Alguém se irá cortar… Além disso, Catalina Pestana – a actual provedora da Casa Pia – afirmou recentemente que ainda hão-de haver mais prisões que serão um «cataclismo» para o país. Quem serão? Isto terá alguma relação com o adiamento sine die de Carlos Silvino? É um processo tão complexo.
E só nos faltavam agora heróis no Parlamento. Fazer de um caso destes um caso de heroísmo, mesmo que se prove que Pedroso é inocente, é de um mau gosto. Que mais virá aí? Tantas interrogações sem resposta já bastam. De todo este processo só esperamos uma coisa: que os culpados sejam punidos e os inocentes vejam ser-lhes feita justiça. Caso contrário, Portugal afundar-se-à cada vez mais.

Duarte SD

Regresso á ideologia

Anos depois de tanta alienação abrimos os olhos. Descobrimos que o mundo está pior do que nunca. Que a humanidade caminha a passos largos para uma derrota de valores, de crenças. De saber ser.
Tudo isto por culpa de um agente letal, mortífero, que se infiltrou em todo o mundo. Que tudo controla. Que tudo aliena. Uma espécie de Big Brother desirmanado. Falamos do Capital. O dinheiro em movimento e com ele o poder. O poder de destruir civilizações. Culturas. De alienar países inteiros para que fiquem pobre, para estes trabalharem à custa de países ricos.
E no meio disto tudo dizem que está tudo bem. Que estão todos ricos. Que todos têm dinheiro. Mas não. Ninguém tem dinheiro. Têm «empréstimos» de capital que são necessários para consumir, para comprar produtos (a maior parte das vezes os bens essenciais), devolvendo o dinheiro e mais alguma coisa (uma mais-valia) à origem cínica.
Entretanto andam a dizer por todo o lado que Marx morreu. Não acreditem! Marx é inultrapassável enquanto perdurar este maldito sistema capitalista. É a ele que, depois de anos perdidos numa alienação sem sentido para o SER humano, regressámos.
Vemos claro de novo. Há que voltar às lutas...
Estar parado é ser conivente!

Duarte SD

segunda-feira, outubro 06, 2003

Poema do ser ignorante

Em cada objecto busco
A suprema explicação
Da minha vida,
Existência alienada pelo silêncio.

Em toda a simplicidade procuro
O elo ascendente
Que ao começo dos tempos
Me liga à humanidade.

Venho não sei muito bem de onde.
Rápido pelo desconhecido sigo.
E no caminho não há palavra que explique
Minha existência neste mundo a morrer.

Quem sou? – desesperado ao céu pergunto.
Para onde vou? – a terra questiono em joelhos sobre ela.
E do silêncio sepulcral e escuro que me rodeia
Uma resposta medonha sobe na alma:
«Não sabemos!»

João Firmino Alves - 10/09/2003

sábado, outubro 04, 2003

A Educação – problema nacional

É já longo o historial dos erros e «invenções» dos ministérios da educação, quer dos governos de Cavaco Silva, de Guterres (o tal da paixão…) e do agora primeiro-ministro Durão Barroso. Todos estes governos se caracterizaram por fazerem da educação uma palavra de ordem… e por a traírem quando viram a colmeia em que iam mexer.

É só asneiras. As propinas aumentam nas Universidades. No Secundário há trinta mil professores no desemprego. No básico as famílias gastam rios de dinheiro num ensino que se diz obrigatório e gratuito. No primário as escolas do interior estão vazias. Esta é apenas uma pequena amostra do estado da Inducação em Portugal. De facto, os constantes governos pós-25 de Abril nunca tiveram tempo – nem vontade, o que é mais importante – para pegarem nesta pasta a que o vulgo chama «batata quente». No entanto, logo após o 25 de Abril a Democracia cometeu um erro calamitoso. Acabar com o ensino técnico. Sem este tipo de Ensino, que muita gente formara em grandes Escolas como a Industrial Infante D. Henrique, como a Comercial Oliveira Martins, etc., os alunos só podiam seguir uma via: serem doutores. E assim se formou, em trinta anos de vida democrática, uma nação de doutores com os mais elevados índices de analfabetismo da Europa.
Mas porque razão não há nenhum governo, quer à esquerda quer à direita, que pegue na Educação e faça aquilo que é preciso fazer: reconstruí-la? A resposta é simples e clara: qualquer ministério da educação que a fizesse, arriscava deitar tudo a perder junto do eleitorado. É que da maneira como está a educação, só num longo período de tempo e com uma revolução é que tudo iria ao sítio. Revolução no sentido de mudança. De parar e pensar. Porque o ensino é como um comboio que vai por uma linha velha. Cada vez mais rápido e com a linha cada vez mais enferrujada, acabará por descarrilar. Se ainda não descarrilou…
Pelo menos parece que isso aconteceu com o recente escândalo governamental. Pedro Lynce ajudou a entrar no Curso de Medicina – aquele que apresenta as médias de acesso mais elevadas e pelo qual tantos jovens suspiram - a filha de um colega de profissão: Martins da Cruz. Isto prova o laxismo e o laissé faire a que isto chegou. A impunidade com que se julgam os governantes. Se eles são assim, e como Estado deveriam ser o exemplo máximo para o povo, perguntamo-nos em que país estamos. Agora os filhos dos ministros têm estatutos excepcionais. Será que por serem filhos de governantes são tão excepcionais? Não há estudantes tão bons que, por vezes, lutam durante contra tudo e contra todos para assegurarem um futuro no que gostam e são impedidos, por «despachos excepcionais»? O que são os governantes mais que o comum do povo? Gostávamos de obter resposta a esta questão.
Mas se um mal nunca vem só, um escândalo nunca aparece solitário. Embora o caso da demissão de Pedro Lynce vá começar a desaparecer, o aumento das propinas continuará ainda a dar que falar. Estas aumentaram com um único intuito. Para dilatar a riqueza de um governo falido, que comanda um país com um défice brutal e que se vai deitar a perder no dia em que mais dez países entrarem para a União Europeia. Tudo serve para arranjar dinheiro. E quem paga os excessos dos governos é o povo. É sempre o povo que paga quando o governo não tem juízo. Mas o que mais nos choca, todos os anos (tantos casos que se conhecem), são aqueles alunos humildes – para não dizer pobres – e esforçados, cujos pais sem muita sorte na vida querem o melhor para eles e não conseguem entrar nas Universidades Públicas. Ou se conseguem têm que trabalhar durante o ano e as férias para pagarem as despesas ao longo do ano. São estes que também são esquecidos na hora do aumento das propinas. São estes que são, talvez, o futuro do país. Muitos não tiveram uma infância feliz. Querem ser alguém. Mas o sistema de alienação a que o mundo capitalista chegou é cínico. Esquece-os e dá oportunidades sempre aos mesmos. Aos filhos dos ministros, aos endinheirados, aos marrões, etc. Que Estado tão pouco humanista e democrata nós temos. O fascismo do dinheiro continua a imperar. Este post é dedicado a todos os estudantes que se inserem nos exemplos anteriores. Sem excepções.

Duarte SD