segunda-feira, outubro 31, 2005

Estudo segundo o retrato do Papa Inocêncio X de Velasquez

O receio de nos falarmos

Passaste por mim. Roubaste-me o olhar. Sorriste levemente. Forçadamente, um "olá" saiu dos teus lábios. Continuaste a andar. O teu olhar não acampanhou o teu passo. Ficou um pouco mais comigo. Queria-me dizer alguma coisa.
Porque não sabemos comunicar um com o outro? Tão difícil é chegar à tua beira, olhar-te nos olhos, e dizer-te algo mais que o simples "olá" arrastado e quase inaudível. Sei que sentes um pouco mais do que a simples simpatia casual por mim. Sei que por vezes me apareces nos meus sonhos mais profundos. Tudo podia, afinal, ser mais simples. Falta-nos a palavra certa. Feliz aquele que que encontra a palavra que liberta as outras. Aquelas que estão prisioneiras na mente. Com elas, quem sabe, juntos pudéssemos subir às estrelas. E, de mãos dadas, passear no firmemento.

domingo, outubro 30, 2005

O magnífico reitor

Li ontem no Público, na coluna semanal "Sobe e desce" do caderno Local (do Porto), um comentário sobre as declarações de Novais Barbosa, reitor da Universidade do Porto, no colóquio "Porto Cidade Região". Questionado. diversas vezes, sobre o papel da UP na afirmação do Porto e da região Norte, o reitor afirmou que "não se pode esperar demasiado da UP". Não segui as notícias relativas a este colóquio, nem nele participei. Mea culpa. Porém, confio no Público e nos seus jornalistas, julgando por isso que o que ontem estava escrito é verdade.
O que Novais Barbosa mostra, com estas afirmações, é uma total falta de ambição para a UP. A UP, da qual sou estudante, deveria ter um papel mais afirmativo junto da cidade. Funcionar como uma das principais instituições da Invicta, senão a principal. Desenvolver mais projectos para a cidade, não só a nível de uma ou duas faculdades, mas com todas. Raramente vi a UP abrir-se à cidade. Por exemplo, sei que algumas faculdades têm museus. E onde estão eles? Podem ser visitados pelos cidadãos?
A UP deve ser um pólo de dinamização e criação de ideias e projectos. E tem que procurar junto dos seus alunos as forças necessárias a que o Porto se orgulhe da sua Universidade. A cidade não ostraciza a UP. A UP é que se fecha em si. Mas afinal, "não se pode esperar demasiado da UP".

Aliados estilhaçados

Dois acidentes envolvendo autocarros numa semana, no mesmo local: a Avenida dos Aliados, coração da cidade do Porto. O primeiro teve o saldo de dezasseis feridos. O segundo resultou na trágica morte de um jovem com 21 anos. Parece que uma maldição ronda a praça mais famosa da Invicta.
Mas será que estes dois acidente podiam ter sido evitados? Não em compete a mim dar uma resposta. porém, posso especular um pouco sobre o miserável estado em que se encontra a Avenida no presente. Desde menino que passo pela Avenida. E desde que, há alguns anos atrás, a minha actividade académica me obriga a aí passar todos os dias, que me julgo no direito de comentar o que por lá se passa.
Neste momento, os Aliados são uma mistura de estaleiro abandonado, com uma pista de carros e um local de paragem de vários autocarros. Não há cordenação de trânsito. Os peões, para atravessarem a via, arriscam-se bastas vezes a serem atropelados. No sentido ascendente, por vezes, carros e autocarros atingem velocidades proibitivas para uma via pública. Os autocarros, para subirem a Rua Elísio de Melo em direcção a Ceuta- local onde ocorreu o trágico acidente de sexta-feira -, são forçados a fazerem uma curva apertada, ao mesmo tempo que puxam a caixa de velocidades devido à inclinação da rua. Talvez tenha sido este um dos motivos porque o jovem faleceu, visto que a Rua Elísio de Melo tem dois sentidos, sendo um pouco apertada quando nela passa um autocarro, o que é muito frequente. Segundo alguns relatos desequilibrou-se no momento em que tentava ultrapassar o autocarro.
Se os Aliados estão o caos que estão, apra além da sua descaracterização estética, deve-se isso a um factor: a estação de Metro. Não somos contra esta obra. Pelo contrário. Ela é fundamental para a cidade e para a região, sendo a estação dos Aliados uma das principais de toda a rede. Os portuenses tiveram que aguentar o sacrifício que foi a abertura do buraco, no antigo espaço ajardinado, para se fazer a estação de Metro. Mas acabada a obra, com a estação aberta, deveriam ter sido, imediatamente, tomadas medidas para que o efeito desta não se prolongasse. Houve má vontade política. Muito por culpa, também, do "velho" conflito entre a empresa da Metro e a Autarquia sobre os limites onde começa a obra de uma e acaba a de outra. Por causa disso, por exemplo, o Campo 24 de Agosto - onde foi aberta uma das primeiras estações - esteve durante anos descaracterizado. A Metro afirmava que era a autarquia que tinha que acabar parte das obras. A Câmara dizia que era a Metro. E o cidadão é que sofria, passando no meio da lama para atravessar a rua.

É urgente uma reformulação rápida da Avenida dos Aliados. Uma Avenida feia e descaracterizada. Dividida e não unida. Na zona da Câmara (Praça General Humberto Delgado), há demasado estacionamento, e uma garagem de autocarros que cria problemas de tráfego. A seguir, na zona da estação de metro, existe uma pista de automóveis, onde os autocarros se lançam em curvas e contracurvas para chegarem ao outro lado da Avenida. apra além disso, metade da Avenida tem nessa zona passeios largos e de granito, e outra tem a velha calçada portuguesa e metade do passeio. Um corte muito brusco e que deve ser resolvido de uma vez por todas. Na parte de baixo, entre o cruzamento de Elísio Melo com o da Rua da Fábrica, lembraram-se agora de colocar cabos no meio do jardim. No único local que sobra, melancolicamente, da antiga avenida. Ao fundo, na praça da Liberdade, o caos continua a imperar. Bruscamente passa-se de via rodoviária em asfalto para paralelo. Os carros e autocarros inundam as bermas dos passeios. E no meio da praça, junto da estátua de Dom Pedro IV, há uma praça de táxis.

Estão feios os Aliados. Uma Avenida que parece que atravessou um guerra civil. Para quando uma solução. Que seja de vez, esperamos. Preferimos aguentar o sacrifício de um ano inteiro de obras em toda a Avenida, do que continuarmos com esta situação a arrastar-se, fazendo-se pequenas obras de cada vez. E uma medida inteligente, e que a médio prazo poderá ser muito benéfica, seria acabar o com o trânsito automóvel na Avenida. Porque não? Era seguir o exemplo de outras cidades europeias. Mas isso é uma coisa a pensar e estudar melhor.

quarta-feira, outubro 26, 2005

O que ando a ler...



Um livro fascinante, sobre um político, José Matildes, personagem inspirada - ou copiada se preferirem - claramente em Francisco Sá Carneiro. Um político trágico. Seguimos a sua ascenção ao poder. A sua personalidade fascinante e diferente do político comum. Mas Matildes não é a única personagem. Papel relevante têm sua esposa, Rosamaria, e os homens que o seguiram e admiraram.
Os meninos de ouro é, também, o retrato de um tempo e de uma sociedade. Aquela que surgiu após o 25 de Abril, e que teve que se adaptar aos novos tempos de liberdade. E em liberdade saber governar Portugal.

Amanhã colocarei online algumas passagens desta obra de Agustina. Uma grande senhora da literatura.

terça-feira, outubro 25, 2005

No fim desta tarde apeteceu-me fazer isto...



Hoje, nesta terça-feira cinzenta, aconteceu-me correr mal o dia. Sinto isso quando chego ao fim-da-tarde insatisfeito comigo mesmo. E mais o sinto quando aquilo que queriamos ter feito e ser neste dia saiu completamente furado. E também quando, por desespero de termos errado num caminho, optamos por destruir-mo-nos. Qual carro com condutor suicida dentro...
Hoje, na única aula em que estive presente - à outra faltei porque tive que ir ao Dragão, comprar bilhete para o jogo de amanhã (não podia perder a estreia, na Taça de Portugal, do nosso grande estádio) - tive que apresentar um trabalho. Correu mal. conteceu, entre outras coisas, porque o tema não me interessava. E além disso, há muito que ando desiludido com o curso onde estou. Errei no caminho. Sei-o hoje com aquela dor de sentir que perdi algo irremediável. A hipótese de achar outro céu. O sentido que me faria correr com algum gosto para o autocarro todos os dias. O curso para onde fui não se coaduna com o meu modo de ser. A minha personalidade exige-me teórico. Homem de acção, se for preciso, apenas pelo estudo. Poderia parecer, até, um "cinzento", como tanta gente pública da nossa praça. Mas sentir-me-ia, quase de certeza (porque tenho aquela sensação inexplicável de que assim o seria), mais feliz.
O curso em que estou actualmente deixou de me seduzir. porque eu não fui feito para reportar causas. Nasci para as defender, devido em grande parte à maneira como juçgo as coisas: aquilo em que acredito e que quero deve ser defendido. Com unhas e dentes. Só assim se conquistarão vitórias. Mesmo que elas demorem, ou nunca aconteçam.
Vitórias. Como depois deste dia posso eu ambicioná-las?
Receber no telemóvel o sms que não queremos.
Por delicadeza perder de vista um sorriso e uns olhos bonitos que me vieram falar.
E depois, o pior de tudo. O continuar a utilizar uma máscara quando falo com os outros. Já lhes tentei mostrar a minha outra face. O meu outro ser. Mas eles julgaram que estava na brincadeira...
Que dia este, que começou na mal passada noite.
Que dia este, em que em vez de recebermos palavras de conforto, que é o que os amigos devem fazer quando outro sofre, recebemos pedras.

Que dia este, em que não conseguimos escrever nada de jeito.

Que dia este, em que me apetece gritar até ficar exausto...

domingo, outubro 23, 2005

Crescer

Hoje, como um golpe seco que nos entra pela alma, constatei que mudei. Dos últimos anos apra cá, quando impossível julgava que muito mudasse, reparei que estava diferente. Cresci? Não cresci? Conceito este que pode tanto dar para o lado físico como para o psíquico... Mas que consenso, neste caso, não descubro, ou não quero descobrir...
Aconteceu o reparar nesta mudança quando olhava para fotografias de há poucos anos. Minhas e de amigos meus. Tanto eles como eu estamos mudados. Os olhares mudaram. O sorriso também em certos casos. Alguns deixaram de ser sinceros e tornaram-se "malandros" Eu próprio não me reconheço... Comparei-me com fotografias que recentemente me foram tiradas. Sou eu, mas não pareço eu. Procuro um espelho. Miro-me nele e o olhar deixo escapar... Sou eu, mas não sou aquele outro de há uns anos. O que mudou. Por que só hoje constatei esta mudança. Penso nos meus amigos. No hábito que se tornou vê-los frequentemente. Acompanhei-lhes as mudanças e por isso não me apercebi dessas mesmas mudanças. Juntos nos habituamos uns aos outros. Só eu não me adaptei ao meu novo olhar...
Talvez seja isso. A fase adulta chegou. A adolescência já fica mais perto da nascente do que da foz. O nosso olhar está mais responsável. è bom que isso aconteça, apesar de causar um certo embaraço. Um sorriso mal formado. O rio segue em frente. Ai daqueles que não se adaptem a novas personalidades.

Saudades de quando a caverna tinha luz

Uma caverna com luz houve que as almas puras iluminava. Nela tudo parecia pelo melhor correr. As almas acalentavam-se umas às outras. Das suas paredes mel e leite puro corriam. E o som que ecoava nessa iluminada caverna. Nessa caverna existiam dois tipos de luzes, que abafavam quasiquer sombras que se aproximassem. As sombras das almas que se ansiavam conhecer, e a luz natural das estrelas. Não tinha tecto esta caverna, como já haveis reparado...
Porém, a peçonha e as trevas rondavam a caverna. A ignomínia e a intolerância abeiram-se do que é puro. Pois esse é o seu campo de batalha. O seu alimento. E mais cedo do que se esperava, num dia em que a caverna andava desabitada e as almas ver não se podiam, os muros deixaram de jorrar a pura água e outros líquidos que a vivência saudável dava. Os espíritos alimentaram-se de peçonha. A intolerância venceu. Quem manter-se puro quis teve que se adaptar. Obsessões entre almas começaram. Cupidezes levaram à maledicência. E um tecto pedregoso e frio sobre a caverna foi construído, afim de que jamais luz entrasse.
A pura caverna hoje não passa de uma recordação. Só é lembrada por almas com máscaras. Falsas também, mas que nas tristes noites nevoentas de sonho uma lágrima furtiva soltam em memória dos outros tempos.

sexta-feira, outubro 21, 2005

Takk - Sigur Rós (o disco do momento)


Da fria Islândia, dos mares do norte perdida, um álbum nasceu. Takk, da banda Sigur Rós, consegue-nos fazer voar. Vale a pena ouvir o disco inteiro com atenção, e perdermo-nos em músicas como Glósóli ou Saeglópur. O resto é sonho e perdição nesse mundo mágico da música. Mundo que pertence a outros estados de alma. Que nos faz sorrir quando estamos tristes.
Obrigado por este brilhante álbum Sigur Rós.

quarta-feira, outubro 19, 2005

Keleti Pu

Keleti Pu é uma estação de comboios. Fisicamente as linhas nela acabam. De todos os lugares da Europa chegam comboios. Mas Keleti Pu é muito mais do que isso para mim. É um lugar de ânsia. De um objectivo realizado. De um reencontro esperado. É a chegada sonhada durante anos. A estação de um sonho realizado.
Keleti Pu é Agosto, é o sorriso e o abraço. É o falar uma língua própria e poética. O lugar onde a peregrinação a meio vai. Uma voz feminina grave que nos encanta a lama. A lágrima derramada quando sentimos que a vida faz sentido.
Esta manhã acordei a sonhar com a minha chegada a Keleti Pu. Que saudades desta estação e do seu momento irrepetível para todos os tempos. Se eu podesse regressar a Keleti Pu. Se eu podesse sentir de novo Keleti Pu... Só talvez num poema...

segunda-feira, outubro 17, 2005

O seu sorriso

O sorriso que ela transporta na sua doce face assusta-me. Prende-me a atenção. Rouba-me o olhar. Deixa-me ainda mais só do que eu estou - mais ou menos como diz o Variações - porque fica com os meus olhos.
O sorriso que ela transporta arrefece meu sangue. Miro de longe sua boca suave, sem que ela repare, e desejo que um dia aquele sorriso seja meu tambem. Que ela possa encostá-lo aos meus lábios. E com estes me dê o beijo pelo qual eu tanto anseio. E nesse momento nossos rostos poderão ser um só. Nossos sentimentos também. E eu de bem alto poderei gritar: amo-te!
Estou perdido pelo sorriso dela, embora o seu sorriso não me seja a mim dirigido. É fácil passar do Paraíso ao Limbo, quase com queda directa no inferno, quando a deixo de ver.

Dedicado a todas as mulheres que sabem sorrir, e que com isso trazem felicidade aos homens e à terra.