sábado, novembro 22, 2003

JFK quarenta anos depois

Algo de muito estranho se passou há quarenta anos em Dallas. Um homem que tomba assassinado. Um homem que era apenas o presidente do mais poderoso país do mundo. Uma nação que a partir de 1963, conheceu o seu lado negro com escândalos, guerras e assassinatos. Até hoje.

Porquê tantas dúvidas? Ainda hoje quando falamos do dia 22 de Novembro de 1963 se é assaltado por mais interrogações que certezas. Por demasiadas coincidências também. Por muitas teorias. Qual a certa? Não vamos neste curto post explicar as teorias, nem sequer nos vamos estender muito por elas. Tantas teorias confundem. Cegam quem quer perceber por si um pouco do que se passou. Algumas são «loucas, como uma que afirma que JFK não morreu, que quem ia no carro era um duplo, etc. Outras dão bastante que pensar. É o caso da teoria mais conhecida, a de Jim Garisson que deu origem ao filme «JFK» de Oliver Stone (recomendamos a sua visualização). As teorias da conspiração – que se opõem à teoria oficial da Comissão Warren – surgiram da necessidade de duvidar da teoria de um homem só que disparou contra o presidente - Harvey Lee Oswald – sem motivo aparente e que é muito frágil. Por mais que tente explicar, a comissão Warren levantou cada vez mais dúvidas. E, na nossa opinião, muito do que se passou em torno do assassinato parece estranho…

Não parece estranho que alguém alvejado pelas costas caia na direcção contrária ao tiro? O poder dos self-media está presente no assassinato de Kennedy. Abraham Zapruder, comerciante de Dallas, conseguiu captar o momento em que o presidente é baleado. A «segunda» bala faz-lhe explodir a parte direita do cérebro. Quando vemos esse pequeno filme, rodado com uma câmara de 8mm., parece-nos que Kennedy apanha a bala de frente ou de lado. Ora, Oswald estava de costas, num prédio que a comitiva presidencial já havia passado. Se estava de costas, o impacto da bala deveria ter projectado o corpo de JFK para a frente, mais o sangue e a parte do cérebro que lhe rebentou. Ora, isso não acontece. Logo se nos levanta a interrogação: seria Oswald o (único) assassino?

O que faz alguém com um guarda-chuva aberto num dia de sol ao meio-dia e meia hora? No assassinato de Kennedy algo que sempre nos pareceu estranho é alguém estar com um gurada-chuva abereto à passagem do cortejo presidencial. A comitiva ia de descapotável. Estava sol. Porque razão um trauseante estava de guarda-chuva aberto? Problemas de pele? Não nos parece visto que há fotografias do mesmo homem, momentos antes do cortejo passar, sentado na relva com o guarda-chuva fechado. O homem estava quase paralelo ao presidente no momento em que este é alvejado pela primeira vez. Seriam sinais? Seria o guarda-chuva uma arma de fogo disfarçada? Eis uma das dúvidas que muito fazem os investigadores privados pensar. Uma questão complexa, como são muitas das outras que assombram este dia negro na história dos Estados Unidos da América.
Em torno disto, ficamo-nos por aqui. Falámos do «umbrella man» como podíamos ter falado das estranhas mortes em torno do caso, da autópsia do presidente, etc. é um exemplo da complexidade do assassinato de JFK.

Um pós-assassinato trágico para a América Com a morte de Kennedy, começaram datas problemáticas para aquela que se afirma como a «maior nação do mundo». Em quatro décadas a América destabilizou-se e destabilizou o mundo. Aqui vão uns exemplos:
- Guerra no Vietnam com milhares de mortos e consequente derrota da América, mais as tensões sociais que lhe estiveram imanentes;
- Assassinato do activista negro Martin Luther King;
- Assassinato de Robert F. Kennedy:
- Escândalo Watergate com a demissão do presidente Nixon:
- Guerras do Golfo;
- Escândalo Lewinsky;
- 11/09/2001
- Etc.

Hiperlinks úteis para aprofundar mais este caso:
The John F. Kennedy
Assassination Homepage

JFK research homepage
uma webpage que tenta provar a partir de fotos e outras imagens a teoria da conspiração
página francesa

quinta-feira, novembro 13, 2003

Tentativa de aforismo

Para quando o sair do nevoeiro e afirmar minha condição de humano? Para quando a resposta divina que justifique o meu ser na Terra. O momento crucial em que um riso da minha face brote e possa aos quatro ventos gritar «Estou vivo e sei viver»? Se humano sou tenho razão e sentimento. Mas para quando a totalidade da revelação do meu ser?
Para quando o mais humano. Onde encontrar o puro sentimento e a pura realização de vida...

Assim bloga Duartustra - num weblog para todos e para ninguém

terça-feira, novembro 11, 2003

A Minha Pátria

«Tudo me prende à terra onde me dei». É um simples verso de Eugénio de Andrade que muito recordo quando passo nas escuras ruas do Porto. A cidade que eu vejo como negra. A cidade que amo não só por nela ter nascido mas por tanto me identificar com o escuro dos seus prédios graníticos e velhos. Cada rua do Porto, se soubermos olhar, se amarmos olhar a cidade, é um acontecimento. Pormenores quase insignificantes, por vezes mínimos, invadem-me o olhar. E encantam-me como quem pela primeira vez vê algo de inesperadamente belo.
Mas não é só por isto que o Porto é a minha pátria. Pátria no sentido de local ao qual a alma ofereço. Pátria porque em Portugal só a minha cidade é intimamente independente, espiritualmente independente, dos níveis de corrupção de costumes, valores e falta de fraternidade a que o Portugal «português» chegou. Não sou radical em dizer que não vejo Lisboa como capital. Não vou afirmar que gostava de ver o Porto e o norte do país independente de Lisboa. Longe disso. Porém, afirmo que não escolhi Lisboa como capital, e a ela não ofereço dedicação. Porque todo o amor que deve ser dado a um local é aqui o Porto que o tem.
O Porto é a minha pátria porque foi aqui que nasci, amei, vivo e estudo. E, para além de tudo, é uma cidade com alma. Uma coisa rara num centro urbano. A cidade sente como uma alma única. Tem orgulho próprio, erigido na vontade dos seus cidadãos. Os tripeiros, povo único que sabe ser amigo do seu amigo, que é generoso. Nunca hipócrita. Não se vende a interesses ditos mais altos. E defende o que é dele. Eu sinto esta alma onde quer que esteja. Quando me ausento da minha pátria, por longos dias, costumo mais cedo ou mais tarde sentir-me diferente. A alma anseia voltar à cidade. E comovo-me sempre quando venho de sul, atravesso a ponte, e vejo o puro espectáculo erigido no granito que é a minha cidade. Coisa única no mundo. Graça divina que orgulha qualquer portuense.
O weblog Crónicas de um desterrado é de um cidadão do Porto. Reparem o que ele sente por estar fora da sua cidade. É um desterro. Até respirar parece diferente. A ele presto a minha homenagem e agradecimento público pelo simpático email que me mandou. Parabéns pelo seu blog e força no seu desterro. A cidade espera por si.

Mais posts sobre a minha pátria em breve…

Duarte SD

segunda-feira, novembro 10, 2003

Alvaro Cunhal

O Ideias e Pensamento não podia deixar de prestar homenagem, em mais um aniversário, ao líder histórico do Partido Comunista português.
Um Homem que sofreu na pele os horrores de um regime fascista e desumano. Alguém que sempre lutou contra esse regime. E, mais que tudo, é um dos raros homens de convicção inabalável do nosso país. Nunca mudou, segundo os seus interesses de partido, e acreditou sempre naquilo por que lutava.Por tudo isto, parabéns camarada Cunhal.

domingo, novembro 09, 2003

Um Fernando Pessoa – reflexões em torno das recentes edições da obra do poeta

A obra de Pessoa continua a ser publicada na Assírio & Alvim, a editora que (re)comprou os direitos à família do poeta da multiplicidade. Porém, cada vez mais se questiona a importância de escritos incompletos, muitas vezes casuais, de Pessoa.É muito interessante a leitura do(s) artigo(s) publicados hoje por Luís Miguel Queirós, no Mil Folhas – suplemento cultural do jornal Público (o mesmo que publica a idiotice «O Inimigo Público») de óptima qualidade -, principalmente a coluna «a quatro mãos». Neste artigo, o autor reflecte sobre grande parte dos manuscritos inéditos de Pessoa não virem acrescentar nada de novo à grandeza do poeta. Defende o colunista – inspirando-se em Herberto Hélder – que «faz falta uma obra poética de Pessoa “limpinha”». O que Queirós pretende afirmar é que as editoras como a Assírio & Alvim, mais aquelas que virão, a partir de 2005 quando caírem no domínio público, publicar e republicar novos textos e visões da obra, se esquecem que os escritos do autor da «Mensagem» se destinam também ao povo, à gente comum. Passamos a explicar este ponto de vista. As edições da Assírio & Alvim têm qualidade literária – e preços escandalosos e mau papel – mas destinam-se cada vez mais a estudiosos ou «fanáticos» pessoanos. Não são destinadas àqueles que não precisam de conhecer a ambiência da vida e do mundo de Pessoa para o admirar e o amar. Porque os textos completos, aqueles que Pessoa publicou em vida e também alguns póstumos, têm em si uma forma de escrita, uma expressão de sensações e pensamentos, que valem por si e não no conjunto de uma obra imensa e fragmentada. A «Tabacaria» de Campos, por exemplo, conseguiu sozinha dar a conhecer a genialidade do seu autor a António Tabuchi e fasciná-lo de tal modo que este italiano de nascença hoje se considera português também. Mesmo a «Mensagem» vale por si. Se nos abstrairmos da visão messiânica do Portugal do V Império prometido – leitura cada vez mais necessária desta obra -, olharmos o texto como estrangeiros que a podem ler no mesmo dialecto (mas não na mesma língua: aquele Portugal futuro está morto e bem enterrado), podemo-nos aperceber de uma grandeza de expressão. Da maneira como a poesia não tinha segredos para o seu autor. Frases lapidares que só alguém de génio podia ter pensado, sonhado e transcrito para papel.
Curioso como também a visão de Luís Miguel Queirós vem ao encontro de uma necessidade que vínhamos sentindo à algum tempo. A necessidade de um Pessoa puro, nem que regressássemos às «caducas» edições da Ática. Foi o que começamos a fazer, comprando os volumes de poesia ortónima do poeta. A Assírio ainda não as começou a publicar, exceptuando as «Quadras» e a «Mensagem» mais alguns poucos poemas. As edições da Casa da Moeda – a leitura necessária para os especialistas de Pessoa – são demasiado técnicas. Não nos sentimos à vontade, nem temos prazer em ler, poemas cheios de notas e variantes. A Europa América tem, na poesia, edições horríveis. Por isso, «regressámos ao passado». Às edições do tempo em que Pessoa começava a ser admirado. Em que não havia uma agitação tão grande em torno da arca dos inéditos. E vale a pena o regresso. Lê-se Pessoa de outro modo. Mergulhado na poesia, na grande escrita, que é o que vale a pena. Sem darmos demasiada importância a inéditos que não passavam, por vezes, de notas soltas para a realização de futuras obras. De necessidade de escrever quando nãos se sabia o quê.
Pessoa seria certamente um escritor compulsivo. Nota-se isso em muitas passagens do «Livro do Desassossego», o seu «laboratório de linguagem» segundo José Gil. E a maior parte desses escritos não são essenciais. Nem para leitura nem para a obra. Devem ser publicados, evidentemente, mas nas edições críticas como a da Casa da Moeda (que para publicar um volume da obra de Pessoa demora anos). O resto é perda de tempo, e envergonharia Pessoa se regressasse ao mundo dos vivos, vendo o que lhe tinham publicado. Porque Pessoa – nunca nos podemos esquecer – era um encenador de si próprio. Dos pensamentos, sentimentos e sensações. E muitos escritos não são falsos, mas também não são verdadeiros. São experiências. E assim devem ser lidos.

Duarte Sousadias